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O Voto de Jefté
Jefté, o gileadita, é protagonista daquele que é
considerado um dos relatos mais controversos das sagradas Escrituras, e que deu
origem a várias discussões teológicas ao longo dos séculos.
Todos os que estudam a Bíblia, conhecem a história de Jefté, o servo de YHWH, que prometeu oferecer em holocausto quem primeiro lhe saísse ao encontro, depois de sair vitorioso da batalha com os amonitas.
No entanto, após o Eterno lhe dar a vitória sobre o inimigo, a primeira pessoa a sair-lhe ao encontro é a sua única filha, o que causa uma grande perturbação em Jefté.
Há quem considere que Jefté ofereceu a sua filha em holocausto ao Eterno, visto que não se pode violar um voto (Números 30:2; Eclesiastes 5:4-5); outros consideram que a oferta não foi um holocausto literal, mas sim uma oferta de consagração. Vamos analisar detalhadamente esse caso, à luz das Sagradas Escrituras, e veremos mais uma vez que a Bíblia interpreta-se a si própria.
Quem foi Jefté (em hebraico: Yftah)?
Era originário de Gileade, foi um dos Juízes de Israel durante um período de 6 anos, numa época em que não havia rei, o que fazia com que cada um agisse conforme parecia bem aos seus olhos (Juízes 17:6). O maior feito de Jefté, foi a libertação do povo da opressão dos amonitas e alguns dos moabitas. Foi sepultado em Safon - Gileade. No capítulo 11:1-6 do livro dos Juízos encontramos mais detalhes da sua biografia:
11:1-6 “Era, então, Jefté, o gileadita [da tribo de Gad], homem valente, porém filho de uma prostituta; Gileade gerara a Jefté. Também a mulher de Gileade lhe deu filhos, os quais, quando já grandes, expulsaram Jefté e lhe disseram: Não herdarás em casa de nosso pai, porque és filho doutra mulher. Então, Jefté fugiu da presença de seus irmãos e habitou na terra de Tobe; e homens levianos se ajuntaram com ele e com ele saíam. Passado algum tempo, pelejaram os filhos de Amom contra Israel. Quando pelejavam, foram os anciãos de Gileade buscar Jefté da terra de Tobe. E disseram a Jefté: Vem e sê nosso chefe, para que combatamos contra os filhos de Amom”.
Qual foi o seu voto e quais as controvérsias respeitantes ao entendimento deste?
Antes de partir para a batalha, Jefté fez um voto ao Eterno; caso ele regressasse a casa vitorioso, quem lhe saísse pela porta de sua casa, ao seu encontro, ofereceria em holocausto. O texto de Juízes 11:30-31 narra assim:
“Fez Jefté um voto A YHWH e disse: Se, com efeito, me entregares os filhos de Amom nas minhas mãos, quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será de YHWH, e eu o oferecerei em holocausto”.
Esse voto de Jefté, deu origem a diversas interpretações ao longo da histórica. O texto é claro, e diz-nos que a primeira pessoa (ou animal) que, saindo da porta da sua casa para ir ao seu encontro quando este voltasse vitorioso do combate, esse pertenceria a YHWH, e seria oferecido em holocausto.
O que significava pertencer a YHWH naqueles dias? Terá Jefté oferecido a sua filha em holocausto? Sem dúvidas que ambas são questões pertinentes, mas existe ainda outra não menos importante; terá sido um acaso ter sido a filha de Jefté a sair ao seu encontro ou terá sido presciência divina?
Eu pessoalmente creio que foi o Eterno que decretou que assim fosse, contudo, sabemos através da Sua Instrução, que YHWH se opõe veementemente ao holocausto humano (Deuteronómio 12:31; 18:10-12).
Essa é a primeira pista que nos ajudará a entender todo o contexto; a segunda pista, é que sabemos que Ele não é Deus de confusão, logo não iria criar uma situação que levasse Jefté a transgredir um mandamento, pois o Eterno não nos incita ao pecado, antes pelo contrário, instrui-nos a afastarmo-nos dele.
Sabemos que o holocausto humano, era uma prática comum entre os moabitas (2 Reis 3:27), e chegou mesmo a ser praticado por Israelitas (2 Reis 16:3; 21:6), embora a Torá (Lei) proibisse tal prática.
Por isso, é fundamental situar o episódio dentro do contexto. Este voto de Jefté deve ser sempre encarado à luz das circunstâncias da época e não de outra forma. Por exemplo, no caso de Abraão e Isaque, YHWH providenciou um sacrifício substituto no lugar de Isaque.
Outro dado interessante, é que Jefté nunca poderia ser considerado um dos heróis da fé, se tivesse cometido tal abominação, conforme narra ao autor da carta aos Hebreus 11:32-34:
E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de David, de Samuel e dos profetas, os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros.
Interpretação 1: Alguns teólogos que defendem que Jefté sacrificou a sua filha em oferta queimada, afirmam que apesar de Deus não ter pedido o sacrifício da filha de Jefté, todavia não fez nada para o impedir, comparando isso com o episódio de Abraão e Isaque.
Argumentam ainda que a palavra holocausto, em hebraico הלע olá, contempla a queima de todo um corpo/objecto até que restem somente cinzas. Por essa razão, afirmam que Jefté de facto ofereceu a sua filha em holocausto.
Interpretação 2: Por outro lado, outros dizem que a passagem se refere não a uma oferta queimada literal, mas sim ao sacrifício da virgindade da filha. Jefté fez um voto a Deus e decidiu cumpri-lo pois, segundo a Torá, aquele que se dirigisse a Deus e lhe fizesse um voto, deveria cumpri-lo.
Na opinião destes, Jefté teria sido imprudente ao fazer tal voto, pois condenou a sua própria filha a viver uma vida de celibato para o resto da sua vida. Portanto Jefté não matou a sua filha. A filha de Jefté foi apenas condenada a viver uma vida celibatária até à sua morte. Permanecendo virgem para sempre. Os que assim pensam concluem que não houve sacrifício humano!
Interpretação 3: Há ainda quem se apegue à conjunção “e” do versículo:
“quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será de YHWH, e eu o oferecerei em holocausto”.
Tal conjunção aparece de facto na forma hebraica “vau”, que poderá ter vários significados. No tanach aparece tanto na sua forma disjuntiva, que pode ser traduzida como “e” ou “ou”, como também na forma negativa, sendo traduzida como “nem”.
Logo se a palavra deste versículo for “ou” ao invés de “e”, então o voto de Jefté implicaria uma de duas possibilidades. Assim a tradução seria: “ou” seria consagrado ao Senhor, “ou” seria oferecida em holocausto, dependendo daquilo que lhe saísse ao encontro.
Abaixo estão algumas passagens onde a palavra “vau” é usada com o significado de “ou” e não com o significado de “e”:
Génesis 41:44 “E disse Faraó a José: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém levantará a sua mão OU [vau] o seu pé em toda a terra do Egipto.”
Êxodo 21:15 “O que ferir a seu pai, OU [vau] a sua mãe, certamente será morto.”
Êxodo 21:17 “E quem amaldiçoar a seu pai, OU [vau] a sua mãe, certamente será morto.”
Êxodo 21:18 “Se dois homens pelejarem, ferindo-se um ao outro com pedra OU [vau] com o punho, e este não morrer, mas cair na cama”
Deuteronómio 3:24 “que Deus existe no céu OU [vau] na terra” etc.
2 Samuel 3:29 “Caia sobre a cabeça de Joabe e sobre toda a casa de seu pai, e nunca na casa de Joabe falte quem tenha fluxo, OU [vau] quem seja leproso, OU [vau] quem se atenha a bordão, OU [vau] quem caia à espada, ou quem necessite de pão.”
1 Reis 18:27 “E sucedeu que ao meio dia Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, OU [vau] que tenha alguma coisa que fazer, OU [vau] que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertará.”
Exemplos da utilização da palavra vau, como função negativa (nem):
Êxodo 20:17 “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, NEM [vau] o seu servo, NEM [vau] a sua serva, NEM [vau] o seu boi, NEM [vau] seu jumento, NEM [vau] coisa alguma do teu próximo.”
Números 16:14 “Nem tampouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, NEM [vau] nos deste campo e vinhas em herança; porventura arrancarás os olhos a estes homens? Não subiremos.”
Números 22:26 “Então o anjo do SENHOR passou mais adiante, e pôs-se num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita NEM [vau] para a esquerda.”
Deuteronómio 7:25 “As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, NEM [vau] os tomará para ti, para que não enlaces neles; pois abominação é ao SENHOR teu Deus.”
1 Reis 18:10 "que não houve nação NEM [vau] reino aonde o meu senhor não mandasse em busca de ti.”
2 Samuel 1:21 “nem chuva cai sobre vós, NEM [vau] haja campos de ofertas alçadas”
Salmos 26:9 “Não apanhe a minha alma com os pecadores, NEM [vau] a minha vida com os homens sanguinolentos".
Provérbios 6:4 “Não dês sono aos teus olhos, NEM [vau] deixes adormecer as tuas pálpebras.”
Provérbios 30:3 “Nem aprendi a sabedoria NEM [vau] tenho o conhecimento do santo.”
Sem dúvida que esta última interpretação textual, por si só, é também uma interpretação extremamente válida pela sua coerência.
Depois de analisadas as três interpretações mais comuns, devemos destacar três pontos fundamentais já destacados:
1º O Eterno abomina o holocausto de humanos;
2º Nunca o texto do Tanach diz que a filha de Jefté morre sacrificada pelo pai. O único texto que pode aludir a isso, é o de Juízes 11:39, mas para isso teríamos que ignorar outros textos das Sagradas Escrituras que abominam o holocausto humano, e que enaltecem Jefté como um dos heróis da fé.
3º YHWH não é Deus de confusão, logo nunca iria criar uma situação na vida de um homem de Elohim que implicasse uma transgressão da Torá.
Yeshua diz: “Errais não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus”. (Mateus 22:29).
Vejamos a harmonia do texto:
Vindo, pois, Jefté a Mispa, a sua casa, saiu-lhe a filha ao seu encontro, com adufes e com danças; e era ela filha única; não tinha ele outro filho nem filha. Quando a viu, rasgou as suas vestes e disse: Ah! Filha minha, tu me prostras por completo; tu passaste a ser a causa da minha calamidade, porquanto fiz voto ao YHWH e não tornarei atrás. E ela lhe disse: Pai meu, fizeste voto a YHWH; faze, pois, de mim segundo o teu voto; pois YHWH te vingou dos teus inimigos, os filhos de Amom. Disse mais a seu pai: Concede-me isto: deixa-me por dois meses, para que eu vá, e desça pelos montes, e chore a minha virgindade, eu e as minhas companheiras. Consentiu ele: Vai. E deixou-a ir por dois meses; então, se foi ela com as suas companheiras e chorou a sua virgindade pelos montes. Ao fim dos dois meses, tornou ela para seu pai, o qual lhe fez segundo o voto por ele proferido; assim, ela jamais foi possuída por varão. Daqui veio o costume em Israel de as filhas de Israel saírem por quatro dias, de ano em ano, a cantar em memória da filha de Jefté, o gileadita.
Jefté, como homem de Deus que era, nunca teria a intenção de fazer um holocausto humano, e se assim fosse, ele saberia que isso teria sido uma clamorosa rejeição da Torá de YHWH.
Nunca o Tanach afirma que YHWH tenha pedido um sacrifício humano da Jefté e também não diz que YHWH tenha permitido que tal sacrifício tenha acontecido. Todavia Jefté fez um voto precipitado à sua própria responsabilidade, talvez levado pela espontaneidade e emoção de sair vitorioso da batalha.
No entanto, acusar YHWH de uma coisa que as Sagradas Escrituras não dizem, é no mínimo irresponsável, até porque o homem não tem o direito de julgar o Todo-Poderoso.
Paulo dá-nos uma lição importantíssima, dizendo que os seres humanos se devem oferecer a si mesmos como um sacrifício (olá) vivo:
Romanos 12:1: Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de YHWH, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a YHWH, que é o vosso culto racional.
Faz todo o sentido que Jefté tenha oferecido a sua filha como um sacrifício vivo em hebraico (chaim) que no entendimento hebraico, implicaria viver uma vida dedicada exclusivamente a YHWH. Sendo aquela a sua única filha, isso implicaria que o seu nome, não teria continuidade genealógica, isto é, não teria descendência ao longo das gerações.
O oferecer uma pessoa ao Eterno, não implica um sacrifício no fogo. Logicamente que, quando Jefté faz o voto ao Eterno, fá-lo contando que lhe sairia um animal ao encontro.
Mas como foi um ser humano (cujo sacrifício no fogo é abominação ao Eterno), neste caso a sua única filha, é óbvio que Jefté nunca equacionou sacrificá-la no fogo, mas sim sacrificar a sua virgindade, para oferecê-la para o serviço ao Eterno. E porquê? Porque Jefté conhecia a Torá, esse é um mandamento que está em Levítico 27:2
Levítico 27:2 Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando alguém fizer voto com respeito a pessoas, estas serão de YHWH, segundo a tua avaliação”.
Recordemos um episódio que nos fará compreender melhor este tipo de sacrifício, que está em 1 Samuel 1:11:
E [Ana] fez um voto, dizendo: Oh Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao Senhor o oferecerei todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.
Vemos que Ana, mãe de Samuel, oferece o seu filho ao Senhor, não implicando isso um sacrifício literal mas sim um sacrifício espiritual, uma vez que o seu filho ao longo da sua vida iria viver uma vida exclusivamente dedicada ao Eterno.
Conclusão: Um sacrifício vivo de perpétua castidade, era um sacrifício tremendo no contexto sociocultural da época, e implicava uma perpétua virgindade, inerente ao serviço exclusivo ao Eterno. É exactamente isso que Paulo diz no texto de Romanos 12:1 “que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo”.
A expressão os “vossos corpos” utilizada por Paulo, é uma metáfora surpreendente, quando o sacrifício de animais ainda se fazia duas vezes por dia naquela época em que existia templo em Jerusalém (Actos 6:1-14).
“que é o vosso culto racional” a palavra grega traduzida como culto é latreia que por sua vez corresponde ao termo hebraico avodah, que significa trabalho, mas que é também o termo técnico para culto religioso de adoração, na época realizado no templo.
Alguém que fizesse um voto de castidade para YHWH, não poderia jamais ter filhos e assim dar continuidade à linhagem familiar do pai.
Jefté agiu com muita honra e grande fé para com YHWH, não voltando atrás relativamente ao voto que tinha feito ao Eterno Deus de Israel.
Por essa razão, quando a filha de Jefté se ausenta dois meses, fá-lo não para chorar a sua morte eminente, mas sim a sua perpétua virgindade (vs. 38).
Contudo, mesmo que ela tivesse de enfrentar a morte ao fim de dois meses, teria ainda assim tempo para se casar com alguém, e não haveria razão para prantear a sua virgindade.
Abraão e o sacrifício (não consumado) de Isaque, protagonizam um episódio semelhante ao de Jefté. Quando YHWH ordena a Abraão que sacrificasse o seu filho, por que razão não o permitiu? Deixemos que seja o Nosso Mestre, Yeshua a responder a esta questão:
Mateus 22:32b: “Deus não é Deus de mortos mas dos vivos”.
Conclusão: A menção enfática de que "ela não conheceu varão" (i.e., não se casou), deixa claro que ela foi apresentada a Deus como sacrifício vivo, servindo toda sua vida como virgem, e ao serviço do santuário nacional de Israel (Êxodo 38.8; 1 Samuel 2.22, Juízes 11:35).
Logo que Jefté a viu, rasgou as suas vestes, e disse: Ai de mim, filha minha! muito me abateste; és tu a causa da minha desgraça! pois eu fiz, um voto a YHWH, e não posso voltar atrás (Juízes11:36). Ela respondeu-lhe dizendo: Meu pai, se fizeste um voto YHWH, faze de mim conforme o teu voto, pois YHWH te vingou dos teus inimigos, os filhos de Amom.
Jefté conhecia a Torá, e o texto de Números 30:2 “Quando um homem fizer voto a YHWH, juramento para obrigar-se a alguma abstinência, não violará a sua palavra; segundo tudo o que prometeu, fará”.
A tristeza de Jefté, vem na sequência da irresponsabilidade e irreflexão das suas palavras, ao ter condicionado a vida da sua filha sem que esta tivesse opção de escolha.
Nenhum ser humano tem o direito de decidir sobre a vida de alguém, e por isso Jefté fica contristado e deveras abatido pela sua atitude irreflectida. Mas uma vez que prometeu, teria que cumprir, e mesmo a sua filha concordou com isso, pois tal como seu pai, conhecia a Torá (Levítico 27:2).
Um voto a Deus é algo que não deve ser feito com ânimo leve, pois implica um compromisso irrevogável. Jefté apercebeu-se da sua insensatez ao fazer um voto tão imprudente, mas, mesmo por saber a implicação do voto, resolveu assumi-lo ainda que isso lhe custasse sobremaneira.
Não é esse o propósito de um voto, mas sim o desejo de servir em alegria e de livre vontade ao Eterno, não vê-lo como um peso ou algo que nos entristeça.
Desta história tiramos uma grande lição; Jefté aprendeu de uma forma dura. Ele descobriu através deste acontecimento, o verdadeiro propósito da fé – não temos que jurar a Deus para que ele realize o que promete.
O que Deus espera de nós é que aprendamos a confiar nEle em tudo. Por ter aprendido esta lição, ele tornou-se num dos maiores exemplos de fé do Tanach (Antigo Testamento), e por isso o autor do livro de Hebreus o cita no texto do capítulo 11:32.
Para finalizar, deixo-vos um texto que resume tudo o que foi explanado neste estudo:
Óseias 6:6 Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.
Todos os que estudam a Bíblia, conhecem a história de Jefté, o servo de YHWH, que prometeu oferecer em holocausto quem primeiro lhe saísse ao encontro, depois de sair vitorioso da batalha com os amonitas.
No entanto, após o Eterno lhe dar a vitória sobre o inimigo, a primeira pessoa a sair-lhe ao encontro é a sua única filha, o que causa uma grande perturbação em Jefté.
Há quem considere que Jefté ofereceu a sua filha em holocausto ao Eterno, visto que não se pode violar um voto (Números 30:2; Eclesiastes 5:4-5); outros consideram que a oferta não foi um holocausto literal, mas sim uma oferta de consagração. Vamos analisar detalhadamente esse caso, à luz das Sagradas Escrituras, e veremos mais uma vez que a Bíblia interpreta-se a si própria.
Quem foi Jefté (em hebraico: Yftah)?
Era originário de Gileade, foi um dos Juízes de Israel durante um período de 6 anos, numa época em que não havia rei, o que fazia com que cada um agisse conforme parecia bem aos seus olhos (Juízes 17:6). O maior feito de Jefté, foi a libertação do povo da opressão dos amonitas e alguns dos moabitas. Foi sepultado em Safon - Gileade. No capítulo 11:1-6 do livro dos Juízos encontramos mais detalhes da sua biografia:
11:1-6 “Era, então, Jefté, o gileadita [da tribo de Gad], homem valente, porém filho de uma prostituta; Gileade gerara a Jefté. Também a mulher de Gileade lhe deu filhos, os quais, quando já grandes, expulsaram Jefté e lhe disseram: Não herdarás em casa de nosso pai, porque és filho doutra mulher. Então, Jefté fugiu da presença de seus irmãos e habitou na terra de Tobe; e homens levianos se ajuntaram com ele e com ele saíam. Passado algum tempo, pelejaram os filhos de Amom contra Israel. Quando pelejavam, foram os anciãos de Gileade buscar Jefté da terra de Tobe. E disseram a Jefté: Vem e sê nosso chefe, para que combatamos contra os filhos de Amom”.
Qual foi o seu voto e quais as controvérsias respeitantes ao entendimento deste?
Antes de partir para a batalha, Jefté fez um voto ao Eterno; caso ele regressasse a casa vitorioso, quem lhe saísse pela porta de sua casa, ao seu encontro, ofereceria em holocausto. O texto de Juízes 11:30-31 narra assim:
“Fez Jefté um voto A YHWH e disse: Se, com efeito, me entregares os filhos de Amom nas minhas mãos, quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será de YHWH, e eu o oferecerei em holocausto”.
Esse voto de Jefté, deu origem a diversas interpretações ao longo da histórica. O texto é claro, e diz-nos que a primeira pessoa (ou animal) que, saindo da porta da sua casa para ir ao seu encontro quando este voltasse vitorioso do combate, esse pertenceria a YHWH, e seria oferecido em holocausto.
O que significava pertencer a YHWH naqueles dias? Terá Jefté oferecido a sua filha em holocausto? Sem dúvidas que ambas são questões pertinentes, mas existe ainda outra não menos importante; terá sido um acaso ter sido a filha de Jefté a sair ao seu encontro ou terá sido presciência divina?
Eu pessoalmente creio que foi o Eterno que decretou que assim fosse, contudo, sabemos através da Sua Instrução, que YHWH se opõe veementemente ao holocausto humano (Deuteronómio 12:31; 18:10-12).
Essa é a primeira pista que nos ajudará a entender todo o contexto; a segunda pista, é que sabemos que Ele não é Deus de confusão, logo não iria criar uma situação que levasse Jefté a transgredir um mandamento, pois o Eterno não nos incita ao pecado, antes pelo contrário, instrui-nos a afastarmo-nos dele.
Sabemos que o holocausto humano, era uma prática comum entre os moabitas (2 Reis 3:27), e chegou mesmo a ser praticado por Israelitas (2 Reis 16:3; 21:6), embora a Torá (Lei) proibisse tal prática.
Por isso, é fundamental situar o episódio dentro do contexto. Este voto de Jefté deve ser sempre encarado à luz das circunstâncias da época e não de outra forma. Por exemplo, no caso de Abraão e Isaque, YHWH providenciou um sacrifício substituto no lugar de Isaque.
Outro dado interessante, é que Jefté nunca poderia ser considerado um dos heróis da fé, se tivesse cometido tal abominação, conforme narra ao autor da carta aos Hebreus 11:32-34:
E que mais direi? Certamente, me faltará o tempo necessário para referir o que há a respeito de Gideão, de Baraque, de Sansão, de Jefté, de David, de Samuel e dos profetas, os quais, por meio da fé, subjugaram reinos, praticaram a justiça, obtiveram promessas, fecharam a boca de leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam ao fio da espada, da fraqueza tiraram força, fizeram-se poderosos em guerra, puseram em fuga exércitos de estrangeiros.
Interpretação 1: Alguns teólogos que defendem que Jefté sacrificou a sua filha em oferta queimada, afirmam que apesar de Deus não ter pedido o sacrifício da filha de Jefté, todavia não fez nada para o impedir, comparando isso com o episódio de Abraão e Isaque.
Argumentam ainda que a palavra holocausto, em hebraico הלע olá, contempla a queima de todo um corpo/objecto até que restem somente cinzas. Por essa razão, afirmam que Jefté de facto ofereceu a sua filha em holocausto.
Interpretação 2: Por outro lado, outros dizem que a passagem se refere não a uma oferta queimada literal, mas sim ao sacrifício da virgindade da filha. Jefté fez um voto a Deus e decidiu cumpri-lo pois, segundo a Torá, aquele que se dirigisse a Deus e lhe fizesse um voto, deveria cumpri-lo.
Na opinião destes, Jefté teria sido imprudente ao fazer tal voto, pois condenou a sua própria filha a viver uma vida de celibato para o resto da sua vida. Portanto Jefté não matou a sua filha. A filha de Jefté foi apenas condenada a viver uma vida celibatária até à sua morte. Permanecendo virgem para sempre. Os que assim pensam concluem que não houve sacrifício humano!
Interpretação 3: Há ainda quem se apegue à conjunção “e” do versículo:
“quem primeiro da porta da minha casa me sair ao encontro, voltando eu vitorioso dos filhos de Amom, esse será de YHWH, e eu o oferecerei em holocausto”.
Tal conjunção aparece de facto na forma hebraica “vau”, que poderá ter vários significados. No tanach aparece tanto na sua forma disjuntiva, que pode ser traduzida como “e” ou “ou”, como também na forma negativa, sendo traduzida como “nem”.
Logo se a palavra deste versículo for “ou” ao invés de “e”, então o voto de Jefté implicaria uma de duas possibilidades. Assim a tradução seria: “ou” seria consagrado ao Senhor, “ou” seria oferecida em holocausto, dependendo daquilo que lhe saísse ao encontro.
Abaixo estão algumas passagens onde a palavra “vau” é usada com o significado de “ou” e não com o significado de “e”:
Génesis 41:44 “E disse Faraó a José: Eu sou Faraó; porém sem ti ninguém levantará a sua mão OU [vau] o seu pé em toda a terra do Egipto.”
Êxodo 21:15 “O que ferir a seu pai, OU [vau] a sua mãe, certamente será morto.”
Êxodo 21:17 “E quem amaldiçoar a seu pai, OU [vau] a sua mãe, certamente será morto.”
Êxodo 21:18 “Se dois homens pelejarem, ferindo-se um ao outro com pedra OU [vau] com o punho, e este não morrer, mas cair na cama”
Deuteronómio 3:24 “que Deus existe no céu OU [vau] na terra” etc.
2 Samuel 3:29 “Caia sobre a cabeça de Joabe e sobre toda a casa de seu pai, e nunca na casa de Joabe falte quem tenha fluxo, OU [vau] quem seja leproso, OU [vau] quem se atenha a bordão, OU [vau] quem caia à espada, ou quem necessite de pão.”
1 Reis 18:27 “E sucedeu que ao meio dia Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes, porque ele é um deus; pode ser que esteja falando, OU [vau] que tenha alguma coisa que fazer, OU [vau] que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertará.”
Exemplos da utilização da palavra vau, como função negativa (nem):
Êxodo 20:17 “Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, NEM [vau] o seu servo, NEM [vau] a sua serva, NEM [vau] o seu boi, NEM [vau] seu jumento, NEM [vau] coisa alguma do teu próximo.”
Números 16:14 “Nem tampouco nos trouxeste a uma terra que mana leite e mel, NEM [vau] nos deste campo e vinhas em herança; porventura arrancarás os olhos a estes homens? Não subiremos.”
Números 22:26 “Então o anjo do SENHOR passou mais adiante, e pôs-se num lugar estreito, onde não havia caminho para se desviar nem para a direita NEM [vau] para a esquerda.”
Deuteronómio 7:25 “As imagens de escultura de seus deuses queimarás a fogo; a prata e o ouro que estão sobre elas não cobiçarás, NEM [vau] os tomará para ti, para que não enlaces neles; pois abominação é ao SENHOR teu Deus.”
1 Reis 18:10 "que não houve nação NEM [vau] reino aonde o meu senhor não mandasse em busca de ti.”
2 Samuel 1:21 “nem chuva cai sobre vós, NEM [vau] haja campos de ofertas alçadas”
Salmos 26:9 “Não apanhe a minha alma com os pecadores, NEM [vau] a minha vida com os homens sanguinolentos".
Provérbios 6:4 “Não dês sono aos teus olhos, NEM [vau] deixes adormecer as tuas pálpebras.”
Provérbios 30:3 “Nem aprendi a sabedoria NEM [vau] tenho o conhecimento do santo.”
Sem dúvida que esta última interpretação textual, por si só, é também uma interpretação extremamente válida pela sua coerência.
Depois de analisadas as três interpretações mais comuns, devemos destacar três pontos fundamentais já destacados:
1º O Eterno abomina o holocausto de humanos;
2º Nunca o texto do Tanach diz que a filha de Jefté morre sacrificada pelo pai. O único texto que pode aludir a isso, é o de Juízes 11:39, mas para isso teríamos que ignorar outros textos das Sagradas Escrituras que abominam o holocausto humano, e que enaltecem Jefté como um dos heróis da fé.
3º YHWH não é Deus de confusão, logo nunca iria criar uma situação na vida de um homem de Elohim que implicasse uma transgressão da Torá.
Yeshua diz: “Errais não compreendendo as Escrituras nem o poder de Deus”. (Mateus 22:29).
Vejamos a harmonia do texto:
Vindo, pois, Jefté a Mispa, a sua casa, saiu-lhe a filha ao seu encontro, com adufes e com danças; e era ela filha única; não tinha ele outro filho nem filha. Quando a viu, rasgou as suas vestes e disse: Ah! Filha minha, tu me prostras por completo; tu passaste a ser a causa da minha calamidade, porquanto fiz voto ao YHWH e não tornarei atrás. E ela lhe disse: Pai meu, fizeste voto a YHWH; faze, pois, de mim segundo o teu voto; pois YHWH te vingou dos teus inimigos, os filhos de Amom. Disse mais a seu pai: Concede-me isto: deixa-me por dois meses, para que eu vá, e desça pelos montes, e chore a minha virgindade, eu e as minhas companheiras. Consentiu ele: Vai. E deixou-a ir por dois meses; então, se foi ela com as suas companheiras e chorou a sua virgindade pelos montes. Ao fim dos dois meses, tornou ela para seu pai, o qual lhe fez segundo o voto por ele proferido; assim, ela jamais foi possuída por varão. Daqui veio o costume em Israel de as filhas de Israel saírem por quatro dias, de ano em ano, a cantar em memória da filha de Jefté, o gileadita.
Jefté, como homem de Deus que era, nunca teria a intenção de fazer um holocausto humano, e se assim fosse, ele saberia que isso teria sido uma clamorosa rejeição da Torá de YHWH.
Nunca o Tanach afirma que YHWH tenha pedido um sacrifício humano da Jefté e também não diz que YHWH tenha permitido que tal sacrifício tenha acontecido. Todavia Jefté fez um voto precipitado à sua própria responsabilidade, talvez levado pela espontaneidade e emoção de sair vitorioso da batalha.
No entanto, acusar YHWH de uma coisa que as Sagradas Escrituras não dizem, é no mínimo irresponsável, até porque o homem não tem o direito de julgar o Todo-Poderoso.
Paulo dá-nos uma lição importantíssima, dizendo que os seres humanos se devem oferecer a si mesmos como um sacrifício (olá) vivo:
Romanos 12:1: Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de YHWH, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a YHWH, que é o vosso culto racional.
Faz todo o sentido que Jefté tenha oferecido a sua filha como um sacrifício vivo em hebraico (chaim) que no entendimento hebraico, implicaria viver uma vida dedicada exclusivamente a YHWH. Sendo aquela a sua única filha, isso implicaria que o seu nome, não teria continuidade genealógica, isto é, não teria descendência ao longo das gerações.
O oferecer uma pessoa ao Eterno, não implica um sacrifício no fogo. Logicamente que, quando Jefté faz o voto ao Eterno, fá-lo contando que lhe sairia um animal ao encontro.
Mas como foi um ser humano (cujo sacrifício no fogo é abominação ao Eterno), neste caso a sua única filha, é óbvio que Jefté nunca equacionou sacrificá-la no fogo, mas sim sacrificar a sua virgindade, para oferecê-la para o serviço ao Eterno. E porquê? Porque Jefté conhecia a Torá, esse é um mandamento que está em Levítico 27:2
Levítico 27:2 Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando alguém fizer voto com respeito a pessoas, estas serão de YHWH, segundo a tua avaliação”.
Recordemos um episódio que nos fará compreender melhor este tipo de sacrifício, que está em 1 Samuel 1:11:
E [Ana] fez um voto, dizendo: Oh Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao Senhor o oferecerei todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.
Vemos que Ana, mãe de Samuel, oferece o seu filho ao Senhor, não implicando isso um sacrifício literal mas sim um sacrifício espiritual, uma vez que o seu filho ao longo da sua vida iria viver uma vida exclusivamente dedicada ao Eterno.
Conclusão: Um sacrifício vivo de perpétua castidade, era um sacrifício tremendo no contexto sociocultural da época, e implicava uma perpétua virgindade, inerente ao serviço exclusivo ao Eterno. É exactamente isso que Paulo diz no texto de Romanos 12:1 “que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo”.
A expressão os “vossos corpos” utilizada por Paulo, é uma metáfora surpreendente, quando o sacrifício de animais ainda se fazia duas vezes por dia naquela época em que existia templo em Jerusalém (Actos 6:1-14).
“que é o vosso culto racional” a palavra grega traduzida como culto é latreia que por sua vez corresponde ao termo hebraico avodah, que significa trabalho, mas que é também o termo técnico para culto religioso de adoração, na época realizado no templo.
Alguém que fizesse um voto de castidade para YHWH, não poderia jamais ter filhos e assim dar continuidade à linhagem familiar do pai.
Jefté agiu com muita honra e grande fé para com YHWH, não voltando atrás relativamente ao voto que tinha feito ao Eterno Deus de Israel.
Por essa razão, quando a filha de Jefté se ausenta dois meses, fá-lo não para chorar a sua morte eminente, mas sim a sua perpétua virgindade (vs. 38).
Contudo, mesmo que ela tivesse de enfrentar a morte ao fim de dois meses, teria ainda assim tempo para se casar com alguém, e não haveria razão para prantear a sua virgindade.
Abraão e o sacrifício (não consumado) de Isaque, protagonizam um episódio semelhante ao de Jefté. Quando YHWH ordena a Abraão que sacrificasse o seu filho, por que razão não o permitiu? Deixemos que seja o Nosso Mestre, Yeshua a responder a esta questão:
Mateus 22:32b: “Deus não é Deus de mortos mas dos vivos”.
Conclusão: A menção enfática de que "ela não conheceu varão" (i.e., não se casou), deixa claro que ela foi apresentada a Deus como sacrifício vivo, servindo toda sua vida como virgem, e ao serviço do santuário nacional de Israel (Êxodo 38.8; 1 Samuel 2.22, Juízes 11:35).
Logo que Jefté a viu, rasgou as suas vestes, e disse: Ai de mim, filha minha! muito me abateste; és tu a causa da minha desgraça! pois eu fiz, um voto a YHWH, e não posso voltar atrás (Juízes11:36). Ela respondeu-lhe dizendo: Meu pai, se fizeste um voto YHWH, faze de mim conforme o teu voto, pois YHWH te vingou dos teus inimigos, os filhos de Amom.
Jefté conhecia a Torá, e o texto de Números 30:2 “Quando um homem fizer voto a YHWH, juramento para obrigar-se a alguma abstinência, não violará a sua palavra; segundo tudo o que prometeu, fará”.
A tristeza de Jefté, vem na sequência da irresponsabilidade e irreflexão das suas palavras, ao ter condicionado a vida da sua filha sem que esta tivesse opção de escolha.
Nenhum ser humano tem o direito de decidir sobre a vida de alguém, e por isso Jefté fica contristado e deveras abatido pela sua atitude irreflectida. Mas uma vez que prometeu, teria que cumprir, e mesmo a sua filha concordou com isso, pois tal como seu pai, conhecia a Torá (Levítico 27:2).
Um voto a Deus é algo que não deve ser feito com ânimo leve, pois implica um compromisso irrevogável. Jefté apercebeu-se da sua insensatez ao fazer um voto tão imprudente, mas, mesmo por saber a implicação do voto, resolveu assumi-lo ainda que isso lhe custasse sobremaneira.
Não é esse o propósito de um voto, mas sim o desejo de servir em alegria e de livre vontade ao Eterno, não vê-lo como um peso ou algo que nos entristeça.
Desta história tiramos uma grande lição; Jefté aprendeu de uma forma dura. Ele descobriu através deste acontecimento, o verdadeiro propósito da fé – não temos que jurar a Deus para que ele realize o que promete.
O que Deus espera de nós é que aprendamos a confiar nEle em tudo. Por ter aprendido esta lição, ele tornou-se num dos maiores exemplos de fé do Tanach (Antigo Testamento), e por isso o autor do livro de Hebreus o cita no texto do capítulo 11:32.
Para finalizar, deixo-vos um texto que resume tudo o que foi explanado neste estudo:
Óseias 6:6 Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos.