“Mas confesso-te isto que, conforme aquele caminho que chamam seita,
assim sirvo ao Elohim de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito nas
leis e nos profetas.” At. 24:14
A primeira coisa que devemos ter ciente ao ler o versículo acima, é que o "crer" não significa meramente respeitar, porque quem crê, cumpre a palavra conforme a Escritura e aceita o convite para seguir o seu caminho. A chave para entender os textos que o apóstolo Paulo, está noutras passagens distintas das controversas, que muitas vezes são usadas equivocadamente.
Na sua declaração no versículo acima, Paulo não deixa dúvidas de que a sua forma de servir ao Eterno é acreditar em tudo das Escrituras. Crer é um verbo que significa “tomar por verdadeiro, ter por certo, acreditar”. Não há como declarar que “crê em tudo” e incluir um “mas” ou “senão” ou mesmo fazer qualquer outro tipo de ressalva.
A frase é ainda mais contundente, pois a forma de Paulo servir ao Eterno é “crendo em tudo que está escrito nas leis e profetas”. Se por um lado esta é uma declaração incisiva e definitiva sobre a sua crença e procedimentos religiosos, por outro lado também permite entender que possui um carácter restritivo: de todo o sistema legal judaico que existia na sua época, Paulo manifesta que sua crença engloba apenas e tão somente o que está “escrito na lei e nos profetas”.
Ou seja, ratifica que na sua fé não há espaço para “leis rabínicas”, isto é, as tradições humanas que foram acrescentadas à palavra, e que o próprio Yeshua também censurou. E ainda lemos que Paulo crê no que está escrito, não havendo então espaço para a pretensa lei oral que tanto o Judaímo Rabínico advoga, que é exactamente o que já falámos, o legalismo judaico.
Paulo, ciente das demais “leis e costumes” dos homens, durante a sua acusação no julgamento que Actos 24 relata, foi enfático em afirmar que a sua fé era inabalável e exclusivamente no que “está escrito nas leis e profetas”. Foi afirmado na forma de “confissão” quando o mesmo foi preso por não cumprir a “lei rabínica”: vs 6. “...o prendemos, e conforme a nossa lei o quisemos julgar”.
Vejamos a Opinião de Pedro sobre Paulo “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” 2Pe. 3:15-16
O apóstolo Pedro [Kefá] que conviveu com Yeshua e acompanhou Paulo desde o seu início, quando emitiu a sua epístola para todas as congregações “da Diáspora” (1Pe. 1:1) especificando o nome de cinco províncias que representavam praticamente o conjunto da Ásia menor [diferente de Paulo que escreveu cartas pontuais para congregações especificas].
Neste texto que divulga para todas as congregações que seguiam a Torá e criam em Yeshua como o Messias, Pedro inicia destacando e enaltecendo a inteligência que Paulo possuía. No versículo seguinte alerta para o facto de que os textos de Paulo são difíceis de compreender, havendo perigos com:
Pessoas que não têm conhecimento [das Escrituras]; aqueles que não são estáveis [na mensagem das Escrituras]; e finaliza informando que ambos “torcem, como o fazem com as outras Escrituras, para sua perdição”.
Logo, Paulo deve, como todos os demais livros das Escrituras, ser entendido à luz das revelações da Bíblia como um todo. Esta visão não é uma nova interpretação, nem uma invenção. É justamente o resgate do contexto por detrás das Escrituras, sendo bereanos (At. 17:11) o suficiente para encontrarmos o vínculo e a contextualização do novo, a partir do antigo. Entendendo o novo como algo que agrega e explica, não como algo que destrói e substitui.
CARTAS DE PAULO
As “Cartas de Paulo” são respostas e soluções direccionadas para problemas enfrentados por cada uma daquelas congregações. Um dos grandes erros actuais na interpretação é, por exemplo, o desconhecimento de que tais cartas foram dirigidas para congregações compostas por:
- Judeus seguidores de Yeshua que foram educados na Torah desde o seu nascimento;
- Judeus seguidores de Yeshua que haviam sido circuncidados quando crianças, mas que abandonaram os caminhos da Torah;
- Gentios, (assim chamados) que se converteram ao Judaísmo, e que foram circuncidados antes da sua fé em Yeshua e conheciam um pouco da Torah;
- Gentios (assim chamados) que chegaram à fé em Yeshua e estavam aprendendo algumas coisas de Torah desde
então;
- Gentios (assim chamados) que praticamente nada sabem da Torah e estavam totalmente desorientados do ponto
de vista de que era importante e o que não era.
Da mesma forma, Paulo não escreveu “temas universais” para que todos seguissem, como sendo uma súmula religiosa ou então um tratado sobre as vantagens e desvantagens de qualquer tema. Muito menos eram cartas doutrinárias com uma nova forma de ver as Escrituras por outro prisma ou eliminando Livros ou Mandamentos dos escritos conhecidos naquela época, como alguns certamente acreditam.
Paulo respondia às questões que tais comunidades lhes formulavam, exclusivamente dentro da óptica das Escrituras [Génesis a Malaquias] e lastreado na fé em Yeshua como o nosso Messias.
As soluções eram específicas como podemos notar, por exemplo, em “1Coríntios 7” onde a congregação de Coríntios estava com problemas e Paulo deu recomendações especificas. Se durante a nossa leitura não soubermos qual foi o problema daquela congregação, devemos então ler Paulo a “tentar” compreender o que estava a acontecer naquela congregação específica. Muitos defendem o facto de Paulo dizer que a Torah não estava mais em vigor. Porém se isto tivesse acontecido - embora o Eterno dissesse ao longo de sua Palavra que esta seria “para sempre” - se Paulo contradiz o que o Eterno falou, ele só poderia estar endemoniado! Não que isto tenha ocorrido, mas pensar que isto (a torah ter sido abolida) aconteceu, é fundamentalmente herético.
Paulo nunca contradisse o Eterno; é só uma questão de entender o que Paulo dizia. Mas, sabemos que existe outra forma de olhar para esses escritos e é isso que procuramos, e nisto está a verdade: na harmonização dos textos bíblicos, e não na contradição.
Por exemplo, nós observamos o Sábado tentando estar nos cultos, ou em comunhão com o Eterno, ou ainda estar em casa fazendo estudos da Palavra etc. Mas se questionarmos a um rabino ortodoxo: “se guardamos correctamente o Shabbat mesmo com a luz acesa, com o uso do computador e uma série de outras coisas”.
A resposta será que não estamos a observá-lo de forma correcta, já que os judeus rabinicos não cozinham nem acendem a luz ao Sábado porque estabeleceram regras e mandamentos humanos ao longo dos tempos que não constam na Santa Palavra do Eterno, e além de o fazerem, exigem que aqueles que abraçam a Sua fé o façam, Paulo afirma que isso é errado que não devemos seguir mandamentos de homens, mas sim unicamente a palavra do Eterno. Como Paulo sabia que aquela congregação em particular, existia um grupo de seguidores oriundos do sistema legal religioso rabínico, o que ele dizia era para não deixar ser julgados pela observância do Sábado pela óptica rabínica.
Outro exemplo, nas respostas que a carta de Paulo trata em Colossenses 2:16, incluiu a questão quanto ao comer e ao beber.
E também como nas perguntas anteriores, a resposta é sobre a forma que os grupos ligados ao gnosticismo (por motivos diferentes que abordaremos noutro estudo) e alguns dos “oriundos das tradições rabínicas”, desejavam que os “recém-chegados” à fé seguissem, e não sobre o acto de seguir o mandamento da alimentação bíblica.
Desde a instituição do complexo sistema legal rabínico, os rabinos afirmam que para comer comida pura biblicamente, não basta seguir apenas as instruções da Torah. Como os “acréscimos rabínicos” que fizeram nas outras áreas, na alimentação também incluíram que, por exemplo, não se pode misturar carne com leite ou mesmo que o cozinhar tem de ser apenas por judeus, e implica um processo de limpeza (casherização) dos utensílios para não perder a sua condição de limpo. Tudo isso são dogmas e mandamentos humanos contra os quais Paulo se levanta, não contra aquilo que o Eterno separou como limpo e imundo em Lev. 11 e Deut. 14.
Outro exemplo existente nos dias de hoje: se optarmos por comer fora num “restaurante vegetariano” onde não há nenhum tipo de carne, inclusive a de porco, e perguntarmos a um rabino ortodoxo se esta alimentação seria Kosher (pura biblicamente), a provável resposta é que não seria, porque “pelas regras rabínicas” somente seria pura se fosse preparada por um judeu na sua confecção. E, inclusive, como solução, este rabino sugeria levar um isqueiro, acender e passar a chama no prato, tornando-a pura, e tanto para Paulo, como para nós isso é absurdo, porque nada na Torá é dito a respeito disso. Tais leis e regras existem sim mas fora da Torá, isto é, nas leis rabínicas que de certa forma ganharam mais destaque e zelo, que a própria palavra do Eterno (Mat. 15:6).
O EXEMPLO DE YESHUA
Temos em Marcos 7 (e também em Mat. 15) a posição de Yeshua sobre a imposição das “leis rabínicas” e o sua opinião sobre isto: "Foram ter com Yeshua os fariseus, e alguns dos professores da Torah vindos de Jerusalém, e repararam que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar. Pois os fariseus e todos os moradores da região de Judá, guardando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar as mãos cuidadosamente; e quando voltam do mercado, se não se purificarem, não comem. E muitas outras coisas há, que receberam para observar, como a lavagem de copos, de jarros e de vasos de bronze. Perguntaram-lhe, pois, os fariseus e os professores da Torah: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos anciãos, mas comem o pão com as mãos por lavar? Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim; mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Vós deixais o mandamento de Elohim, e vos apegais à tradição dos homens. Disse-lhes ainda: Bem sabeis rejeitar mandamento de Deus, para guardardes a vossa tradição."
Paulo demonstrava que a fé em Yeshua como sendo o Messias inclui o seu posicionamento de abandonar as tradições dos homens e seguirmos apenas os mandamentos de Deus.
Portanto, devemos ter em conta cada um dos cenários existentes nas congregações para entendermos correctamente qual foi a questão e o porquê de cada resposta que Paulo proferiu. Naquela congregação de Colossenses havia um grupo oriundo de longa convivência com regras rabínicas e acostumados com a forma com que a “lei oral dos rabinos”tratavam muitas questões. Temos de lembrar que este grupo praticava a forma rabínica porque já tinha formação sobre o conteúdo das Escrituras.
Ao mesmo tempo, os “recém-chegados” eram formados por graus diferentes de “gentios” como foi exposto no inicio deste capítulo. Existiam os que desconheciam inclusive até mesmo as próprias Escrituras. Se nesta congregação
existiam até mesmo os que sequer sabiam qual era a totalidade do conteúdo das Escrituras, como os outros poderiam lhes impor/julgarem por não as praticar pela forma rabínica? Com isto, o grupo que já conhecia as Escrituras, necessitava de tempo e esforço para remover o acréscimo dos “costumes e leis rabínicas” que eram contra a Torah, e que eles ainda acreditavam ser importante na fé ao Messias.
E, da mesma forma, o outro grupo precisava de remover os “mitos e costumes” oriundos do paganismo e outras religiões, também necessitando de tempo e dedicação para apreender as Escrituras e começar a distinguir o que realmente é o correcto para YHWH.
A explicação para a carta à congregação dos Colossenses é que Paulo tratou de harmonizar todos os grupos com formação diferentes (1Cor. 9:20), procurando mostrar a importância na crença que todos possuíam em Yeshua como Messias e seguirem a Torah eram o que todos deveriam ter como objectivo.
PRINCIPAIS HERESIAS (SOBRE A LEI) ENFRENTADAS POR PAULO
- Defendiam que era obrigatório cumprir preceitos rabínicos (i.e. adições à Torah);
- Defendiam que os crentes estavam sob autoridade dos rabinos;
- Defendiam que deveriam viver de acordo com as “obras da lei” (que são os exemplos de vida dos grandes rabinos);
- Defendiam que mesmo cumprirndoo a Lei milimetricamente, ainda assim não eram salvos, como acreditava a Casa de Shamai, ao valorizar os méritos. E “apenas” com a graça do Eterno também não poderiam ser salvos.
- Alegavam que “Não judeus” são inferiores, segundo a “lei oral ou rabínica”.
OBRAS DA LEI E OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO
Outra expressão mal compreendido é “obras da lei”, que no texto original aramaico é “abdeh namusa”, mas a maioria não sabe que é um termo rabínico. No hebraico, o equivalente é “Ma'assei haTorah”. Ou seja, São “acrescentos à Torah” por puro legalismo.É importante lembrar sempre que “obras da lei” não significa “cumprir a Torah”. O primeiro é seguirmos o exemplo de alguém acreditando que poderá nos trazer a salvação ou proximidade com YHWH. O segundo é fazer a Vontade de YHWH que a manifestou na Sua Palavra.
Entre 1947 e 1956, centenas de manuscritos antigos – incluindo cópias de quase todos os livros do Antigo Testamento – foram descobertos, dentro de grandes vasos de barro, escondidos em 11 cavernas, nas montanhas do lado oeste do Mar Morto. Ao analisar a sua escrita e ao submetê-los a testes radiométricos, os arqueólogos ficaram pasmados ao constatar que esses documentos tinham cerca de 2 mil anos de antiguidade! Alguns tinham sido escritos nos dias de Yeshua e outros até dois séculos antes! Quem teria escrito os famosos Manuscritos do Mar Morto? Por que teriam sido escondidos nas cavernas do remoto e inóspito Deserto da Judéia? Que segredos eles escondem? Essas perguntas continuam a ser debatidas até hoje por arqueólogos, historiadores, filólogos e teólogos. Mas algumas respostas surpreendentes já foram encontradas.
Uma dessas surpresas ocorre num manuscrito conhecido como MMT (abreviatura da expressão hebraica "Miqsat Ma-ase ha-Torah" que significa "importantes obras da lei"). Esses são os único escritos até hoje conhecidos, fora da Bíblia, que usam a expressão “obras da lei”. Antes da sua descoberta, essa expressão só aparecia nos escritos de Paulo, onde severas críticas são feitas às “obras da lei”. Paulo ensina, por exemplo, que “o homem não é salvo pelas obras da lei” (Gál. 2:16) e que “todos aqueles que são das obras da lei estão debaixo da maldição” (Gál. 3:10).
O que Paulo queria dizer por “obras da lei”? Alguns defendem que ele se referia à obediência à Lei de Deus e concluíram, muito apressadamente, e que os crentes não precisavam mais de obedecer à Torah. O MMT, contudo, aponta para um significado totalmente diferente. Seis cópias fragmentárias do MMT foram descobertas nas cavernas do Mar Morto, indicando que, provavelmente, muitas outras cópias foram feitas e distribuídas. O MMT é uma carta, com mais de 130 linhas, que tenta convencer seus leitores a praticar as “importantes obras da lei” e, para nossa grande surpresa, ele faz uma lista de cerca de vinte dessas práticas religiosas, consideradas extremamente importantes pelo autor do MMT.
Entre elas está: (1) não usar tecidos em que se mistura lã e linho; (2) não colocar debaixo do mesmo jugo animais de espécies diferentes; (3) não semear grãos de espécies diferentes no mesmo campo; (4) não lavar utensílios em água corrente – pois poderiam contaminar-se com o que tivesse sido lavado pela corrente acima; etc. O MMT, evidentemente, interpreta e amplifica, de maneira extremada e distorcida, os textos do Velho Testamento. A sua preocupação é com a preservação da pureza, em não misturar o puro com o impuro, e não incorrer no erro do “jugo desigual”. O MMT considera tais práticas como essenciais para a religião.
O apóstolo Paulo posiciona-se firmemente contra esse ensinamento que, como nos mostra o MMT, parece ter sido bastante difundido naquela época. O MMT comete o erro de achar que impureza é uma questão externa, ritualística, e não moral, do íntimo do coração. Para Paulo, uma religião meramente exterior e ritualística não têm qualquer virtude, porque todos somos “justificados pela fé no Mashiach, e não pelas obras da lei, porque pelas obras da lei ninguém será justificado” (Gá. 2:16). A Torah de YHWH (mandamentos, estatutos, juízos e testemunhos) porém, continua a ser “santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rom. 7:12).
DEBAIXO DA LEI
Quantos de nós já ouvimos a expressão (muito comum nos meios evangélicos) :“não estou debaixo da lei , estou debaixo da graça”?
Certamente que somos salvos pela graça, não pela observação da Lei, mas a maioria utiliza esta “teoria enganosa” para dizer que a “Lei da Torah”não é mais válida. Mas quem o utiliza esbarra num problema que não percebem: no hebraico a palavra “graça” é “chessed” [חסד]. E esta palavra aparece mais de 240 vezes no Tanach ou o chamado “Velho Testamento” (VT). Com isto, os servos de Elohim sempre estiveram “debaixo da graça”, desde os tempos em que a Torah foi dada, e não apenas após o ministério de Yeshua. O que muitos não percebem é: o problema está nas duas formas com que foi feita a tradução das Escrituras:
Durante a tradução do chamado VT a palavra hebraica “chessed” foi traduzida como “misericórdia” ou “benignidade”. Já no chamado “Novo Testamento” a mesma palavra “chessed” foi traduzida apenas como “graça”. Intencionalmente a tradução JFAlmeida procurou modificar o sentido da palavra “chessed” para outro contexto, visando deixar a “graça” como algo exclusivo para o período após Yeshua apenas. Porém, a palavra hebraica “chessed - חסד ” possui o significado de “graça” para todos os Livros da Escritura. Isto por que a graça sempre esteve presente desde o Jardim do Éden, pois o Cordeiro de Elohim que morreu por nós estava preparado desde a fundação do mundo. (1Pe. 1:19-20)
Veja alguns exemplos de “chessed - חסד” no VT com a correcta tradução deste termo e também de“iniquidade” como “transgressão da Torah”:
"Tu, com a tua beneficência (graça/chessed/חסד) guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade" [Ex 15:13]
"E faço misericórdia (graça/chessed/חסד) a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos." [Ex. 20:6]
"Que guarda a beneficência “graça/chessed/חסד” em milhares; que perdoa a iniquidade [o não cumprimento da Torah], e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade [o não cumprimento da Torah] dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração." (Ex. 34:7).
"Perdoa, pois, a iniquidade [não cumprimento da Torah] deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia (graça/chessed/חסד); e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui." (Num. 14:19)
"E faço misericórdia “graça/chessed/חסד ” a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos." Dt. 5:10
"Será, pois, que, se ouvindo estes juízos, os guardardes e cumprirdes, o Senhor teu Elohim te guardará a aliança e a misericórdia (graça/chessed/חסד) que jurou a teus pais;" Dt. 7:12
A “Lei/Torah” foi dada pela “Graça/Chessed” do Eterno, que nos explicou através da Torah como viver uma vida de santidade.
A “Graça/Chessed” coexiste com a “Lei/Torah” no próprio Evangelho desde Génesis, o termo “Lei” pode ter três conotações diferentes (lei dos homens, Lei de YHWH e a lei do pecado), como Paulo sabia destas “leis”, quando faz referência a estar debaixo da “graça” como o oposto a estar debaixo da “lei”, Paulo não falava contra a “Lei de YHWH- A Torah”, mas sim da “lei
rabínica” ou "lei dos homens."
O cumprir a “Lei da Torah” no Velho Testamento é paralelo à “graça”; então, sendo paralelo não pode ser oposto.Paulo desenvolveu a expressão “debaixo da lei” que no aramaico é “techeit namusa” e no grego é “upon nomos”.Esta expressão não existia anteriormente em nenhum outro livro e em ambos os idiomas. Foi criada por Paulo, como forma de expressar o que denominamos actualmente como o “legalismo” das leis dos rabinos praticados naquela época.
Portanto, o uso da expressão “debaixo da Lei” seria o mesmo que “não estamos debaixo de regras dos homens, mas sim da graça de Elohim, que na Torah nos explica como podemos ser agraciados com essa mesma Graça, isto é, andando segundo toda a sua vontade (mandamentos, estatutos, juízos e testemunhos)”.
Fim da parte 2, continue a ler sobre o tema clicando no botão abaixo.
Na sua declaração no versículo acima, Paulo não deixa dúvidas de que a sua forma de servir ao Eterno é acreditar em tudo das Escrituras. Crer é um verbo que significa “tomar por verdadeiro, ter por certo, acreditar”. Não há como declarar que “crê em tudo” e incluir um “mas” ou “senão” ou mesmo fazer qualquer outro tipo de ressalva.
A frase é ainda mais contundente, pois a forma de Paulo servir ao Eterno é “crendo em tudo que está escrito nas leis e profetas”. Se por um lado esta é uma declaração incisiva e definitiva sobre a sua crença e procedimentos religiosos, por outro lado também permite entender que possui um carácter restritivo: de todo o sistema legal judaico que existia na sua época, Paulo manifesta que sua crença engloba apenas e tão somente o que está “escrito na lei e nos profetas”.
Ou seja, ratifica que na sua fé não há espaço para “leis rabínicas”, isto é, as tradições humanas que foram acrescentadas à palavra, e que o próprio Yeshua também censurou. E ainda lemos que Paulo crê no que está escrito, não havendo então espaço para a pretensa lei oral que tanto o Judaímo Rabínico advoga, que é exactamente o que já falámos, o legalismo judaico.
Paulo, ciente das demais “leis e costumes” dos homens, durante a sua acusação no julgamento que Actos 24 relata, foi enfático em afirmar que a sua fé era inabalável e exclusivamente no que “está escrito nas leis e profetas”. Foi afirmado na forma de “confissão” quando o mesmo foi preso por não cumprir a “lei rabínica”: vs 6. “...o prendemos, e conforme a nossa lei o quisemos julgar”.
Vejamos a Opinião de Pedro sobre Paulo “E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição” 2Pe. 3:15-16
O apóstolo Pedro [Kefá] que conviveu com Yeshua e acompanhou Paulo desde o seu início, quando emitiu a sua epístola para todas as congregações “da Diáspora” (1Pe. 1:1) especificando o nome de cinco províncias que representavam praticamente o conjunto da Ásia menor [diferente de Paulo que escreveu cartas pontuais para congregações especificas].
Neste texto que divulga para todas as congregações que seguiam a Torá e criam em Yeshua como o Messias, Pedro inicia destacando e enaltecendo a inteligência que Paulo possuía. No versículo seguinte alerta para o facto de que os textos de Paulo são difíceis de compreender, havendo perigos com:
Pessoas que não têm conhecimento [das Escrituras]; aqueles que não são estáveis [na mensagem das Escrituras]; e finaliza informando que ambos “torcem, como o fazem com as outras Escrituras, para sua perdição”.
Logo, Paulo deve, como todos os demais livros das Escrituras, ser entendido à luz das revelações da Bíblia como um todo. Esta visão não é uma nova interpretação, nem uma invenção. É justamente o resgate do contexto por detrás das Escrituras, sendo bereanos (At. 17:11) o suficiente para encontrarmos o vínculo e a contextualização do novo, a partir do antigo. Entendendo o novo como algo que agrega e explica, não como algo que destrói e substitui.
CARTAS DE PAULO
As “Cartas de Paulo” são respostas e soluções direccionadas para problemas enfrentados por cada uma daquelas congregações. Um dos grandes erros actuais na interpretação é, por exemplo, o desconhecimento de que tais cartas foram dirigidas para congregações compostas por:
- Judeus seguidores de Yeshua que foram educados na Torah desde o seu nascimento;
- Judeus seguidores de Yeshua que haviam sido circuncidados quando crianças, mas que abandonaram os caminhos da Torah;
- Gentios, (assim chamados) que se converteram ao Judaísmo, e que foram circuncidados antes da sua fé em Yeshua e conheciam um pouco da Torah;
- Gentios (assim chamados) que chegaram à fé em Yeshua e estavam aprendendo algumas coisas de Torah desde
então;
- Gentios (assim chamados) que praticamente nada sabem da Torah e estavam totalmente desorientados do ponto
de vista de que era importante e o que não era.
Da mesma forma, Paulo não escreveu “temas universais” para que todos seguissem, como sendo uma súmula religiosa ou então um tratado sobre as vantagens e desvantagens de qualquer tema. Muito menos eram cartas doutrinárias com uma nova forma de ver as Escrituras por outro prisma ou eliminando Livros ou Mandamentos dos escritos conhecidos naquela época, como alguns certamente acreditam.
Paulo respondia às questões que tais comunidades lhes formulavam, exclusivamente dentro da óptica das Escrituras [Génesis a Malaquias] e lastreado na fé em Yeshua como o nosso Messias.
As soluções eram específicas como podemos notar, por exemplo, em “1Coríntios 7” onde a congregação de Coríntios estava com problemas e Paulo deu recomendações especificas. Se durante a nossa leitura não soubermos qual foi o problema daquela congregação, devemos então ler Paulo a “tentar” compreender o que estava a acontecer naquela congregação específica. Muitos defendem o facto de Paulo dizer que a Torah não estava mais em vigor. Porém se isto tivesse acontecido - embora o Eterno dissesse ao longo de sua Palavra que esta seria “para sempre” - se Paulo contradiz o que o Eterno falou, ele só poderia estar endemoniado! Não que isto tenha ocorrido, mas pensar que isto (a torah ter sido abolida) aconteceu, é fundamentalmente herético.
Paulo nunca contradisse o Eterno; é só uma questão de entender o que Paulo dizia. Mas, sabemos que existe outra forma de olhar para esses escritos e é isso que procuramos, e nisto está a verdade: na harmonização dos textos bíblicos, e não na contradição.
Por exemplo, nós observamos o Sábado tentando estar nos cultos, ou em comunhão com o Eterno, ou ainda estar em casa fazendo estudos da Palavra etc. Mas se questionarmos a um rabino ortodoxo: “se guardamos correctamente o Shabbat mesmo com a luz acesa, com o uso do computador e uma série de outras coisas”.
A resposta será que não estamos a observá-lo de forma correcta, já que os judeus rabinicos não cozinham nem acendem a luz ao Sábado porque estabeleceram regras e mandamentos humanos ao longo dos tempos que não constam na Santa Palavra do Eterno, e além de o fazerem, exigem que aqueles que abraçam a Sua fé o façam, Paulo afirma que isso é errado que não devemos seguir mandamentos de homens, mas sim unicamente a palavra do Eterno. Como Paulo sabia que aquela congregação em particular, existia um grupo de seguidores oriundos do sistema legal religioso rabínico, o que ele dizia era para não deixar ser julgados pela observância do Sábado pela óptica rabínica.
Outro exemplo, nas respostas que a carta de Paulo trata em Colossenses 2:16, incluiu a questão quanto ao comer e ao beber.
E também como nas perguntas anteriores, a resposta é sobre a forma que os grupos ligados ao gnosticismo (por motivos diferentes que abordaremos noutro estudo) e alguns dos “oriundos das tradições rabínicas”, desejavam que os “recém-chegados” à fé seguissem, e não sobre o acto de seguir o mandamento da alimentação bíblica.
Desde a instituição do complexo sistema legal rabínico, os rabinos afirmam que para comer comida pura biblicamente, não basta seguir apenas as instruções da Torah. Como os “acréscimos rabínicos” que fizeram nas outras áreas, na alimentação também incluíram que, por exemplo, não se pode misturar carne com leite ou mesmo que o cozinhar tem de ser apenas por judeus, e implica um processo de limpeza (casherização) dos utensílios para não perder a sua condição de limpo. Tudo isso são dogmas e mandamentos humanos contra os quais Paulo se levanta, não contra aquilo que o Eterno separou como limpo e imundo em Lev. 11 e Deut. 14.
Outro exemplo existente nos dias de hoje: se optarmos por comer fora num “restaurante vegetariano” onde não há nenhum tipo de carne, inclusive a de porco, e perguntarmos a um rabino ortodoxo se esta alimentação seria Kosher (pura biblicamente), a provável resposta é que não seria, porque “pelas regras rabínicas” somente seria pura se fosse preparada por um judeu na sua confecção. E, inclusive, como solução, este rabino sugeria levar um isqueiro, acender e passar a chama no prato, tornando-a pura, e tanto para Paulo, como para nós isso é absurdo, porque nada na Torá é dito a respeito disso. Tais leis e regras existem sim mas fora da Torá, isto é, nas leis rabínicas que de certa forma ganharam mais destaque e zelo, que a própria palavra do Eterno (Mat. 15:6).
O EXEMPLO DE YESHUA
Temos em Marcos 7 (e também em Mat. 15) a posição de Yeshua sobre a imposição das “leis rabínicas” e o sua opinião sobre isto: "Foram ter com Yeshua os fariseus, e alguns dos professores da Torah vindos de Jerusalém, e repararam que alguns dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar. Pois os fariseus e todos os moradores da região de Judá, guardando a tradição dos anciãos, não comem sem lavar as mãos cuidadosamente; e quando voltam do mercado, se não se purificarem, não comem. E muitas outras coisas há, que receberam para observar, como a lavagem de copos, de jarros e de vasos de bronze. Perguntaram-lhe, pois, os fariseus e os professores da Torah: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos anciãos, mas comem o pão com as mãos por lavar? Respondeu-lhes: Bem profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim; mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Vós deixais o mandamento de Elohim, e vos apegais à tradição dos homens. Disse-lhes ainda: Bem sabeis rejeitar mandamento de Deus, para guardardes a vossa tradição."
Paulo demonstrava que a fé em Yeshua como sendo o Messias inclui o seu posicionamento de abandonar as tradições dos homens e seguirmos apenas os mandamentos de Deus.
Portanto, devemos ter em conta cada um dos cenários existentes nas congregações para entendermos correctamente qual foi a questão e o porquê de cada resposta que Paulo proferiu. Naquela congregação de Colossenses havia um grupo oriundo de longa convivência com regras rabínicas e acostumados com a forma com que a “lei oral dos rabinos”tratavam muitas questões. Temos de lembrar que este grupo praticava a forma rabínica porque já tinha formação sobre o conteúdo das Escrituras.
Ao mesmo tempo, os “recém-chegados” eram formados por graus diferentes de “gentios” como foi exposto no inicio deste capítulo. Existiam os que desconheciam inclusive até mesmo as próprias Escrituras. Se nesta congregação
existiam até mesmo os que sequer sabiam qual era a totalidade do conteúdo das Escrituras, como os outros poderiam lhes impor/julgarem por não as praticar pela forma rabínica? Com isto, o grupo que já conhecia as Escrituras, necessitava de tempo e esforço para remover o acréscimo dos “costumes e leis rabínicas” que eram contra a Torah, e que eles ainda acreditavam ser importante na fé ao Messias.
E, da mesma forma, o outro grupo precisava de remover os “mitos e costumes” oriundos do paganismo e outras religiões, também necessitando de tempo e dedicação para apreender as Escrituras e começar a distinguir o que realmente é o correcto para YHWH.
A explicação para a carta à congregação dos Colossenses é que Paulo tratou de harmonizar todos os grupos com formação diferentes (1Cor. 9:20), procurando mostrar a importância na crença que todos possuíam em Yeshua como Messias e seguirem a Torah eram o que todos deveriam ter como objectivo.
PRINCIPAIS HERESIAS (SOBRE A LEI) ENFRENTADAS POR PAULO
- Defendiam que era obrigatório cumprir preceitos rabínicos (i.e. adições à Torah);
- Defendiam que os crentes estavam sob autoridade dos rabinos;
- Defendiam que deveriam viver de acordo com as “obras da lei” (que são os exemplos de vida dos grandes rabinos);
- Defendiam que mesmo cumprirndoo a Lei milimetricamente, ainda assim não eram salvos, como acreditava a Casa de Shamai, ao valorizar os méritos. E “apenas” com a graça do Eterno também não poderiam ser salvos.
- Alegavam que “Não judeus” são inferiores, segundo a “lei oral ou rabínica”.
OBRAS DA LEI E OS MANUSCRITOS DO MAR MORTO
Outra expressão mal compreendido é “obras da lei”, que no texto original aramaico é “abdeh namusa”, mas a maioria não sabe que é um termo rabínico. No hebraico, o equivalente é “Ma'assei haTorah”. Ou seja, São “acrescentos à Torah” por puro legalismo.É importante lembrar sempre que “obras da lei” não significa “cumprir a Torah”. O primeiro é seguirmos o exemplo de alguém acreditando que poderá nos trazer a salvação ou proximidade com YHWH. O segundo é fazer a Vontade de YHWH que a manifestou na Sua Palavra.
Entre 1947 e 1956, centenas de manuscritos antigos – incluindo cópias de quase todos os livros do Antigo Testamento – foram descobertos, dentro de grandes vasos de barro, escondidos em 11 cavernas, nas montanhas do lado oeste do Mar Morto. Ao analisar a sua escrita e ao submetê-los a testes radiométricos, os arqueólogos ficaram pasmados ao constatar que esses documentos tinham cerca de 2 mil anos de antiguidade! Alguns tinham sido escritos nos dias de Yeshua e outros até dois séculos antes! Quem teria escrito os famosos Manuscritos do Mar Morto? Por que teriam sido escondidos nas cavernas do remoto e inóspito Deserto da Judéia? Que segredos eles escondem? Essas perguntas continuam a ser debatidas até hoje por arqueólogos, historiadores, filólogos e teólogos. Mas algumas respostas surpreendentes já foram encontradas.
Uma dessas surpresas ocorre num manuscrito conhecido como MMT (abreviatura da expressão hebraica "Miqsat Ma-ase ha-Torah" que significa "importantes obras da lei"). Esses são os único escritos até hoje conhecidos, fora da Bíblia, que usam a expressão “obras da lei”. Antes da sua descoberta, essa expressão só aparecia nos escritos de Paulo, onde severas críticas são feitas às “obras da lei”. Paulo ensina, por exemplo, que “o homem não é salvo pelas obras da lei” (Gál. 2:16) e que “todos aqueles que são das obras da lei estão debaixo da maldição” (Gál. 3:10).
O que Paulo queria dizer por “obras da lei”? Alguns defendem que ele se referia à obediência à Lei de Deus e concluíram, muito apressadamente, e que os crentes não precisavam mais de obedecer à Torah. O MMT, contudo, aponta para um significado totalmente diferente. Seis cópias fragmentárias do MMT foram descobertas nas cavernas do Mar Morto, indicando que, provavelmente, muitas outras cópias foram feitas e distribuídas. O MMT é uma carta, com mais de 130 linhas, que tenta convencer seus leitores a praticar as “importantes obras da lei” e, para nossa grande surpresa, ele faz uma lista de cerca de vinte dessas práticas religiosas, consideradas extremamente importantes pelo autor do MMT.
Entre elas está: (1) não usar tecidos em que se mistura lã e linho; (2) não colocar debaixo do mesmo jugo animais de espécies diferentes; (3) não semear grãos de espécies diferentes no mesmo campo; (4) não lavar utensílios em água corrente – pois poderiam contaminar-se com o que tivesse sido lavado pela corrente acima; etc. O MMT, evidentemente, interpreta e amplifica, de maneira extremada e distorcida, os textos do Velho Testamento. A sua preocupação é com a preservação da pureza, em não misturar o puro com o impuro, e não incorrer no erro do “jugo desigual”. O MMT considera tais práticas como essenciais para a religião.
O apóstolo Paulo posiciona-se firmemente contra esse ensinamento que, como nos mostra o MMT, parece ter sido bastante difundido naquela época. O MMT comete o erro de achar que impureza é uma questão externa, ritualística, e não moral, do íntimo do coração. Para Paulo, uma religião meramente exterior e ritualística não têm qualquer virtude, porque todos somos “justificados pela fé no Mashiach, e não pelas obras da lei, porque pelas obras da lei ninguém será justificado” (Gá. 2:16). A Torah de YHWH (mandamentos, estatutos, juízos e testemunhos) porém, continua a ser “santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rom. 7:12).
DEBAIXO DA LEI
Quantos de nós já ouvimos a expressão (muito comum nos meios evangélicos) :“não estou debaixo da lei , estou debaixo da graça”?
Certamente que somos salvos pela graça, não pela observação da Lei, mas a maioria utiliza esta “teoria enganosa” para dizer que a “Lei da Torah”não é mais válida. Mas quem o utiliza esbarra num problema que não percebem: no hebraico a palavra “graça” é “chessed” [חסד]. E esta palavra aparece mais de 240 vezes no Tanach ou o chamado “Velho Testamento” (VT). Com isto, os servos de Elohim sempre estiveram “debaixo da graça”, desde os tempos em que a Torah foi dada, e não apenas após o ministério de Yeshua. O que muitos não percebem é: o problema está nas duas formas com que foi feita a tradução das Escrituras:
Durante a tradução do chamado VT a palavra hebraica “chessed” foi traduzida como “misericórdia” ou “benignidade”. Já no chamado “Novo Testamento” a mesma palavra “chessed” foi traduzida apenas como “graça”. Intencionalmente a tradução JFAlmeida procurou modificar o sentido da palavra “chessed” para outro contexto, visando deixar a “graça” como algo exclusivo para o período após Yeshua apenas. Porém, a palavra hebraica “chessed - חסד ” possui o significado de “graça” para todos os Livros da Escritura. Isto por que a graça sempre esteve presente desde o Jardim do Éden, pois o Cordeiro de Elohim que morreu por nós estava preparado desde a fundação do mundo. (1Pe. 1:19-20)
Veja alguns exemplos de “chessed - חסד” no VT com a correcta tradução deste termo e também de“iniquidade” como “transgressão da Torah”:
"Tu, com a tua beneficência (graça/chessed/חסד) guiaste a este povo, que salvaste; com a tua força o levaste à habitação da tua santidade" [Ex 15:13]
"E faço misericórdia (graça/chessed/חסד) a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos." [Ex. 20:6]
"Que guarda a beneficência “graça/chessed/חסד” em milhares; que perdoa a iniquidade [o não cumprimento da Torah], e a transgressão e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade [o não cumprimento da Torah] dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração." (Ex. 34:7).
"Perdoa, pois, a iniquidade [não cumprimento da Torah] deste povo, segundo a grandeza da tua misericórdia (graça/chessed/חסד); e como também perdoaste a este povo desde a terra do Egito até aqui." (Num. 14:19)
"E faço misericórdia “graça/chessed/חסד ” a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos." Dt. 5:10
"Será, pois, que, se ouvindo estes juízos, os guardardes e cumprirdes, o Senhor teu Elohim te guardará a aliança e a misericórdia (graça/chessed/חסד) que jurou a teus pais;" Dt. 7:12
A “Lei/Torah” foi dada pela “Graça/Chessed” do Eterno, que nos explicou através da Torah como viver uma vida de santidade.
A “Graça/Chessed” coexiste com a “Lei/Torah” no próprio Evangelho desde Génesis, o termo “Lei” pode ter três conotações diferentes (lei dos homens, Lei de YHWH e a lei do pecado), como Paulo sabia destas “leis”, quando faz referência a estar debaixo da “graça” como o oposto a estar debaixo da “lei”, Paulo não falava contra a “Lei de YHWH- A Torah”, mas sim da “lei
rabínica” ou "lei dos homens."
O cumprir a “Lei da Torah” no Velho Testamento é paralelo à “graça”; então, sendo paralelo não pode ser oposto.Paulo desenvolveu a expressão “debaixo da lei” que no aramaico é “techeit namusa” e no grego é “upon nomos”.Esta expressão não existia anteriormente em nenhum outro livro e em ambos os idiomas. Foi criada por Paulo, como forma de expressar o que denominamos actualmente como o “legalismo” das leis dos rabinos praticados naquela época.
Portanto, o uso da expressão “debaixo da Lei” seria o mesmo que “não estamos debaixo de regras dos homens, mas sim da graça de Elohim, que na Torah nos explica como podemos ser agraciados com essa mesma Graça, isto é, andando segundo toda a sua vontade (mandamentos, estatutos, juízos e testemunhos)”.
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