A verdade sobre a Torah- Análise a posições extremistas
O primeiro grande erro das
Bíblias evangélicas, é substituírem a palavra Torah, por Lei, quando a mesma se
refere à lei de Deus, ou seja, Torah, significa instrução, e é compilada pelos cinco primeiros livros da Bíblia, da autoria de Moisés, conhecido pelo mundo
ocidental, como Pentateuco. Quando Jesus diz que não veio abolir a Lei em Mateus 5:17, se for feita uma tradução
fiel aos originais, temos:
"Não penseis que vim abolir a Torah ou os profetas, não vim abolir, mas cumprir."
Ao surgir a palavra “Lei” nas Bíblias evangélicas, é mudado todo um contexto da frase. Mas que lei? As pessoas associam À lei que está na pedra, que essa não foi abolida, tudo o resto foi, mas se a tradução fosse fiel aos originais, todos saberíamos que Yeshua se referia à Torah como um todo, à instrução, ao Pentateuco. A Bíblia Judaica completa de David Stern diz-nos:
"Não penseis que vim abolir a Torah ou os profetas, não vim abolir, mas cumprir."
Ao surgir a palavra “Lei” nas Bíblias evangélicas, é mudado todo um contexto da frase. Mas que lei? As pessoas associam À lei que está na pedra, que essa não foi abolida, tudo o resto foi, mas se a tradução fosse fiel aos originais, todos saberíamos que Yeshua se referia à Torah como um todo, à instrução, ao Pentateuco. A Bíblia Judaica completa de David Stern diz-nos:
Depois de quase dois mil anos
de trevas e jugo romano, ainda temos dificuldades naturais na nossa relação com a Torah. Ninguém pode supor que, depois do despertar de um
torpor tão longo, o observar a Torah seja tarefa extremamente fácil e trivial. Principalmente,
considerando-se que o Judaísmo normativo, embora tenha preservado boa parte da
observância à Torah, também trouxe a ela um jugo de costumes e normas humanas
(algumas até mesmo de origem pagã) que não faziam parte originalmente da fé que
nos foi ensinada por Moisés. Por razão disto, duas posições
extremistas extremamente perigosas têm surgido no nosso meio. A primeira é a de
que somente o que a Torah diz é válido como regra de comportamento. A segunda
alega que, além da Torah escrita, existe uma suposta “Torah Oral”, Torah oral essa que foi compilada naquilo que hoje conhecemos por Talmude (Mishná e Guemará), ver um artigo sobre o Talmude clicando AQUI. Este estudo pretende refutar
essas duas posições, em defesa da verdade não apenas da Torah, como de todas as
Escrituras.
PRIMEIRA POSIÇÃO EXTERMISTA: SÓ A TORAH É VÁLIDA
"Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos de YHWH teu Deus, que eu vos mando." (Deut. 4:2)
É possível para muitos de nós rapidamente termos a percepção de que a Torah é o fundamento da nossa fé. Nela, estão descritas a nossa identidade, a nossa história, as nossas transgressões, e as promessas de YHWH para nós e de que deveríamos dar ouvidos à voz Do Messias (Dt. 18:15).
Contudo, alguns têm levado essa posição ao extremismo, dizendo o seguinte: “Se não está na Torah, então determinado acto ou atitude não é pecado” ou “não é da vontade de YHWH”. Essa posição baseia-se justamente no primeiro texto citado, de Deut. 4:2, que determina que Israel não deveria fazer qualquer acréscimo ou diminuição da Torah. Tais pessoas chegam ao absurdo de dizer que Yeshua não poderia ensinar nada de novo acerca da vontade de YHWH, pois a Sua vontade estaria totalmente expressa na Torah. Ora, convém perguntar a tais pessoas por que Yeshua perdeu tempo da sua vida a ensinar o povo, ao invés de ir directamente para o madeiro.
O facto é que a Torah contém a essência expressa da moral e da vontade de YHWH, indubitavelmente. Como tal, ela serve como parâmetro para verificarmos se algo está ou não de acordo com a vontade d’Ele. É por isso, por exemplo, que rejeitamos a interpretação anti-lei dada pelo Cristianismo aos escritos de Paulo, pois vai totalmente contra aquilo que YHWH nos revelou nos primórdios.
Se uma determinada vertente de interpretação das Escrituras fere frontalmente a Torah, então podemos ter a certeza e a convicção de que essa não é a interpretação correcta da Palavra de YHWH. Todavia, isso não quer dizer que absolutamente tudo o que YHWH desejasse dizer esteja declarado de forma literal na Torah. Caso contrário, não haveria qualquer necessidade de outros textos bíblicos. E, hoje em dia, não existe nenhum grupo religioso que creia que os Cinco primeiros livros da Bíblia sejam os únicos inspirados. O mais próximo disso são os samaritanos, que só aceitam, de todo o Tanach (VT), a porção da Torah.
Contudo, até mesmo eles têm livros adicionais nas suas escrituras. Isso significa que em Israel nunca houve quem entendesse que a Torah almejava ser a totalidade da revelação de YHWH para nosso povo. Até porque, se somos um povo conduzido por YHWH, então isto significa que YHWH se revela a nós de forma contínua e constante. A Torah sempre foi, ou pelo menos sempre deveria ter sido, o parâmetro principal, para verificarmos se uma palavra dada por um profeta estava de acordo com a vontade de YHWH. E assim o é até os dias de hoje. Algumas pessoas, contudo, tomam o versículo mencionado no início deste estudo como uma declaração literal de que nada mais possa ser revelado da vontade de YHWH. O curioso é que normalmente isto é mais utilizado para defender comportamentos moralmente estranhos, uma vez que a Torah se cala a respeito deles. Não é à toa que Yeshua nos recomenda que atentemos para os frutos (Mat. 7:15-20). Se analisarmos essa questão, podemos perceber que quase sempre o que se tem é uma tentativa de servir à carne, ou de justificar um comportamento negativo.
Um Princípio Essénio
Recentemente, por exemplo, um líder alegou que a poligamia e o sexo entre duas mulheres não eram pecado, pois a Torah nada diz a respeito. Contudo, sabemos que Yeshua diz:
"Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?" (Mat. 19:4-5)
Yeshua refere-se a um princípio que os essénios chamavam de Yessod HaBeriá, ou “Fundação da Criação” isto significa que quando YHWH criou todas as coisas, estabeleceu as condições ideais de existência. Assim sendo, tudo aquilo que foge dessas condições é em decorrência da transgressão humana. Assim sendo, a princípio, YHWH criou o homem e a mulher para formarem uma só carne, um único casal.
Lembremo-nos que Yeshua também deixa claro em Mat. 19 que nem tudo o que a Torah permitiu foi por vontade de YHWH. Isso é fácil de entendermos. Por exemplo, a Torah contempla sacrifícios pelo pecado. Contudo, a vontade de YHWH é que nunca tais sacrifícios ocorram. Como assim???? É simples: YHWH não pode desejar que o homem peque! A Torah apenas prevê tal situação devido à transgressão. Mas, nós teremos que nos esforçarmos para não agirmos segundo os impulsos da carne. Com relação ao lesbianismo, a Torah não se pronuncia, porque naquela época, numa sociedade patriarcal onde as mulheres se casavam muito cedo e permaneciam na casa dos seus maridos, tal prática era incomum.
Contudo, Paulo revela qual a vontade de YHWH:
"Por isso YHWH os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro." (Rom. 1:26-27)
Semelhantemente, aqui Paulo também aplica o princípio essénio da Fundação da Criação: No princípio, Elohim não criou as mulheres para se inflamarem sensualmente umas com as outras. Qualquer coisa que fira o princípio e a ordem natural criada pelo Eterno é, por definição, uma transgressão ao mandamento de Elohim! E, no entanto, esse líder diz que é lícito, porque a Torah nada fala a respeito. Mas vejamos, a Torah nada fala a respeito disso, porque a Torah é um princípio estabelecido, e não uma enciclopédia de todas as possíveis e imagináveis transgressões e depravações comportamentais que o ser humano seja capaz de inventar. A Torah, por exemplo, nada fala contra consumirmos drogas. Mas por causa disso, quer dizer que é lícito?
É por isso mesmo que YHWH nos deu o Espírito Santo: "E porei dentro de vós o meu espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis." (Ez.36:27) Será que realmente podemos dizer que o versículo de Deut. 4:2 a questão refere-se ao facto de que tudo o que YHWH quis dizer está no Pentateuco e que, fora do Pentateuco, nada é pecado?
Analisemos o versículo em questão e verifiquemos o que ele diz:
"Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos de YHWH teu Deus, que eu vos mando."
A frase diz, essencialmente, que aquilo que YHWH nosso Elohim nos diz não deve ser distorcido: nem para mais, nem para menos. Repare que algumas pessoas entendem algo que a Torah NÃO diz: Que YHWH não daria qualquer outra palavra.
O mandamento é claro: Não distorcer o que YHWH diz. Mas o mandamento não amordaçou YHWH de modo que nada mais pudesse ser dito. Existem duas formas de entender esse versículo. Uma delas é a de que ele se refira a um princípio geral de que não devemos distorcer o que YHWH nos ensina. Outro é o de que esta tenha sido uma forma de “selar” o livro da Torah, isto é, a partir daquele ponto, nada mais poderia ser dito ou ensinado acerca da vontade de YHWH, ou acerca do que são os mandamentos. A segunda interpretação traz grandes problemas para os seus propositores:
Problema #1 – Cortar Deuteronómio
O primeiro problema que podemos perceber é o de que esse texto é dito em Deuteronómio 4, e nele, a totalidade da Torah não havia sido dada ainda.
Se o texto for entendido como uma forma de sacramentar que, a partir daquele ponto, YHWH não daria mais qualquer ordem a Israel, então a Torah deveria ser encerrada em Deuteronómio 4. Tudo o que está além de Deut. 4 deveria ser ignorado, pois não faz parte da Torah.
Contudo, isso gera um enorme problema:
"E Yeshua respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve ó Israel, YHWH é o teu Deus, YHWH é UM. Amarás, pois, a YHWH teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento." (Marcos 12:29-30)
Ora, tanto Yeshua quanto o próprio Judaísmo normativo concordam que o Shemá é talvez a mandamento mais importante de todas, a partir do qual todo o restante da Torah deriva. Afinal, trata-se da declaração de que Israel tem apenas UM Deus, a quem devemos todo o amor e devoção.
Porém, o Shemá só aparece em Deuteronômio 6 Ou seja, se acharmos que Deuteronómio 4 sacramenta a totalidade das palavras de YHWH, então o mandamento principal fica fora da Torah!
O CERNE DA QUESTÃO
O cerne do problema descrito em Deut. 4 está em:
- Não levar em consideração as palavras de YHWH;
- Fazer acréscimos ao que YHWH diz;
- Remover do que YHWH diz;
Três exemplos de posições históricas podem ser vistas como algo que fere essa recomendação:
- A posição cristã de que a Torah foi abolida desmerece as palavras de YHWH e, portanto, contradiz Deuteronómio 4;
- As leis acerca do Judaísmo normativo, como por exemplo, não comerem carne com leite (Dt. 14:21)
- As excepções do Judaísmo normativo.
Por exemplo, YHWH diz que devemos remover todo o fermento de nossos lares na semana dos asmos (Ex. 12:15), mas o Judaísmo normativo diz que é lícito guardar o fermento em casa, desde que seja trancado num armário, e seja feito um documento a vender o fermento para um estrangeiro durante a semana dos asmos e automaticamente o recomprando após os Asmos. É justamente contra esse tipo de situação que Moisés alerta o povo, quando diz que as palavras de YHWH são inalteráveis. Em momento algum Moisés diz que YHWH não poderia dar novas orientações ao povo.
A Torah dá as cartas
A verdade é que a própria Torah já nos ensina como devemos agir. Primeiramente, a Torah legitima a existência de profetas:
"Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, YHWH, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele." (Núm. 12:6)
Evidentemente que o teste sempre foi a Torah. Mas foi justamente dessa forma que o povo de Israel pôde reconhecer que Escrituras ilustravam a vontade de YHWH.
Paulo diz com clareza:
"Toda a Escritura divinamente inspirada, é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça;" (2Tim. 3:16)
As Escrituras são inspiradas por YHWH, mas também são proveitosas para instruir em justiça. Assim sendo, quando lemos uma Escritura que prescreve um dado comportamento, a nossa posição jamais deve ser a de dizer que “não está na Torah”, afinal a própria Torah alerta que haveria profetas para nos revelarem a vontade de Deus.
SEGUNDA POSIÇÃO EXTREMISTA: TORAH ORAL?
Podemos dizer, então, como dizem os judeus normativos, que existe uma Torah Oral? Certamente que não. O facto é que tudo aquilo que YHWH deu ao povo de Israel foi descrito, segundo o próprio Yeshua, “na Torah e nos profetas”. Como vimos, para verificarmos se algo é verdadeiro, devemos utilizar a Torah como parâmetro. Para considerarmos a hipótese de uma Torah Oral, tal hipótese precisa ser possível mediante a Torah escrita. Vejamos se isso é possível.
O Judaísmo farisaico, que posteriormente se transformou no Judaísmo normativo, alega que juntamente com o texto escrito da Torah, foi entregue uma “Torah Oral” a Moisés. Essa suposta “Torah Oral” teria sido passada de Moisés aos sábios, e preservada de geração em geração. Existem evidências históricas contrárias a isso, como, por exemplo, o próprio testemunho de Flávio Josefo. Contudo, antes de sequer considerarmos tal análise, é preciso verificar se a própria Torah “escrita” dá margem para isso.
A questão é bem simples: Existe algo na Torah escrita que afirme que NÃO há uma Torah Oral? Ou existe algo que afirme que há? Ou, na ausência de um texto claro, há algum indício que possa levar à hipótese de uma Torah oral?
A resposta para a maior parte dessas perguntas é “não.” Contudo, para uma delas, a resposta é “sim”. Vejamos exactamente o que diz a Torah.
A primeira evidência aparece em Êxodo 24:12:
"Então disse YHWH a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas de pedra e a Torah, e os mandamentos que tenho escrito, para os ensinar."
Aqui vemos que tudo o que YHWH deu a Moisés foi escrito. Mas há mais:
"E Moisés escreveu esta Torah, e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca da aliança de YHWH, e a todos os anciãos de Israel. E ordenou-lhes Moisés, dizendo: Ao fim de cada sete anos, no tempo determinado do ano da remissão, na festa dos tabernáculos, quando todo o Israel vier a comparecer perante YHWH teu Elohim, no lugar que ele escolher, lerás esta Torah diante de todo Israel aos seus ouvidos. Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam a YHWH vosso Deus,, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta Torah; E que seus filhos, que não a souberem, ouçam e aprendam a temer a YHWH vosso Deus,, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Jordão, para a possuir." (Deut. 31:10-13)
Novamente, vemos que aquilo que deveria ser ensinado ao povo era lido da Torah, e não transmitido via tradição oral.
Mas será que há algo na Torah que diga que TUDO o que YHWH disse a Moisés, ele escreveu? A resposta é sim. Repare na instrução que Moisés deixa aos seus sucessores:
"E, havendo-o passado, escreverás nelas todas as palavras desta Torah, para entrares na terra que te der YHWH teu Deus, terra que mana leite e mel, como te falou o YHWH Deus de teus pais." (Deut. 27:3)
Para sacramentar a questão, existe ainda o testemunho de Josué, sucessor de Moisés, que diz com total clareza que tudo o que Moisés deixou foi escrito: "E depois leu em alta voz todas as palavras da Torah, a bênção e a maldição, conforme a tudo o que está escrito no livro da lei. Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara, que Josué não lesse perante toda a congregação de Israel, e as mulheres, e os meninos, e os estrangeiros, que andavam no meio deles." Jos. 8:34-35
Portanto, podemos concluir com clareza que a Torah Oral é um acréscimo que não existe à Torah e que viola sim as determinações de Deuteronômio 4.
CONCLUSÃO
Como podemos perceber ambas as posições são equivocadas. YHWH deixou para Israel não somente a Torah, como todo um conjunto de Escrituras, das quais a Torah é a base de tudo. Além disso, podemos ver que Moisés não deixou qualquer conjunto de tradições orais, como complemento da Torah. Assim sendo, a Torah pura de YHWH não está isolada, pois é fundação para toda a Palavra, mas também não precisa de qualquer acréscimo, pois, como diz o salmista:
A Torah de YHWH é perfeita, e refrigera a alma. (Salmos 19:7)
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PRIMEIRA POSIÇÃO EXTERMISTA: SÓ A TORAH É VÁLIDA
"Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos de YHWH teu Deus, que eu vos mando." (Deut. 4:2)
É possível para muitos de nós rapidamente termos a percepção de que a Torah é o fundamento da nossa fé. Nela, estão descritas a nossa identidade, a nossa história, as nossas transgressões, e as promessas de YHWH para nós e de que deveríamos dar ouvidos à voz Do Messias (Dt. 18:15).
Contudo, alguns têm levado essa posição ao extremismo, dizendo o seguinte: “Se não está na Torah, então determinado acto ou atitude não é pecado” ou “não é da vontade de YHWH”. Essa posição baseia-se justamente no primeiro texto citado, de Deut. 4:2, que determina que Israel não deveria fazer qualquer acréscimo ou diminuição da Torah. Tais pessoas chegam ao absurdo de dizer que Yeshua não poderia ensinar nada de novo acerca da vontade de YHWH, pois a Sua vontade estaria totalmente expressa na Torah. Ora, convém perguntar a tais pessoas por que Yeshua perdeu tempo da sua vida a ensinar o povo, ao invés de ir directamente para o madeiro.
O facto é que a Torah contém a essência expressa da moral e da vontade de YHWH, indubitavelmente. Como tal, ela serve como parâmetro para verificarmos se algo está ou não de acordo com a vontade d’Ele. É por isso, por exemplo, que rejeitamos a interpretação anti-lei dada pelo Cristianismo aos escritos de Paulo, pois vai totalmente contra aquilo que YHWH nos revelou nos primórdios.
Se uma determinada vertente de interpretação das Escrituras fere frontalmente a Torah, então podemos ter a certeza e a convicção de que essa não é a interpretação correcta da Palavra de YHWH. Todavia, isso não quer dizer que absolutamente tudo o que YHWH desejasse dizer esteja declarado de forma literal na Torah. Caso contrário, não haveria qualquer necessidade de outros textos bíblicos. E, hoje em dia, não existe nenhum grupo religioso que creia que os Cinco primeiros livros da Bíblia sejam os únicos inspirados. O mais próximo disso são os samaritanos, que só aceitam, de todo o Tanach (VT), a porção da Torah.
Contudo, até mesmo eles têm livros adicionais nas suas escrituras. Isso significa que em Israel nunca houve quem entendesse que a Torah almejava ser a totalidade da revelação de YHWH para nosso povo. Até porque, se somos um povo conduzido por YHWH, então isto significa que YHWH se revela a nós de forma contínua e constante. A Torah sempre foi, ou pelo menos sempre deveria ter sido, o parâmetro principal, para verificarmos se uma palavra dada por um profeta estava de acordo com a vontade de YHWH. E assim o é até os dias de hoje. Algumas pessoas, contudo, tomam o versículo mencionado no início deste estudo como uma declaração literal de que nada mais possa ser revelado da vontade de YHWH. O curioso é que normalmente isto é mais utilizado para defender comportamentos moralmente estranhos, uma vez que a Torah se cala a respeito deles. Não é à toa que Yeshua nos recomenda que atentemos para os frutos (Mat. 7:15-20). Se analisarmos essa questão, podemos perceber que quase sempre o que se tem é uma tentativa de servir à carne, ou de justificar um comportamento negativo.
Um Princípio Essénio
Recentemente, por exemplo, um líder alegou que a poligamia e o sexo entre duas mulheres não eram pecado, pois a Torah nada diz a respeito. Contudo, sabemos que Yeshua diz:
"Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, e disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?" (Mat. 19:4-5)
Yeshua refere-se a um princípio que os essénios chamavam de Yessod HaBeriá, ou “Fundação da Criação” isto significa que quando YHWH criou todas as coisas, estabeleceu as condições ideais de existência. Assim sendo, tudo aquilo que foge dessas condições é em decorrência da transgressão humana. Assim sendo, a princípio, YHWH criou o homem e a mulher para formarem uma só carne, um único casal.
Lembremo-nos que Yeshua também deixa claro em Mat. 19 que nem tudo o que a Torah permitiu foi por vontade de YHWH. Isso é fácil de entendermos. Por exemplo, a Torah contempla sacrifícios pelo pecado. Contudo, a vontade de YHWH é que nunca tais sacrifícios ocorram. Como assim???? É simples: YHWH não pode desejar que o homem peque! A Torah apenas prevê tal situação devido à transgressão. Mas, nós teremos que nos esforçarmos para não agirmos segundo os impulsos da carne. Com relação ao lesbianismo, a Torah não se pronuncia, porque naquela época, numa sociedade patriarcal onde as mulheres se casavam muito cedo e permaneciam na casa dos seus maridos, tal prática era incomum.
Contudo, Paulo revela qual a vontade de YHWH:
"Por isso YHWH os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro." (Rom. 1:26-27)
Semelhantemente, aqui Paulo também aplica o princípio essénio da Fundação da Criação: No princípio, Elohim não criou as mulheres para se inflamarem sensualmente umas com as outras. Qualquer coisa que fira o princípio e a ordem natural criada pelo Eterno é, por definição, uma transgressão ao mandamento de Elohim! E, no entanto, esse líder diz que é lícito, porque a Torah nada fala a respeito. Mas vejamos, a Torah nada fala a respeito disso, porque a Torah é um princípio estabelecido, e não uma enciclopédia de todas as possíveis e imagináveis transgressões e depravações comportamentais que o ser humano seja capaz de inventar. A Torah, por exemplo, nada fala contra consumirmos drogas. Mas por causa disso, quer dizer que é lícito?
É por isso mesmo que YHWH nos deu o Espírito Santo: "E porei dentro de vós o meu espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis." (Ez.36:27) Será que realmente podemos dizer que o versículo de Deut. 4:2 a questão refere-se ao facto de que tudo o que YHWH quis dizer está no Pentateuco e que, fora do Pentateuco, nada é pecado?
Analisemos o versículo em questão e verifiquemos o que ele diz:
"Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos de YHWH teu Deus, que eu vos mando."
A frase diz, essencialmente, que aquilo que YHWH nosso Elohim nos diz não deve ser distorcido: nem para mais, nem para menos. Repare que algumas pessoas entendem algo que a Torah NÃO diz: Que YHWH não daria qualquer outra palavra.
O mandamento é claro: Não distorcer o que YHWH diz. Mas o mandamento não amordaçou YHWH de modo que nada mais pudesse ser dito. Existem duas formas de entender esse versículo. Uma delas é a de que ele se refira a um princípio geral de que não devemos distorcer o que YHWH nos ensina. Outro é o de que esta tenha sido uma forma de “selar” o livro da Torah, isto é, a partir daquele ponto, nada mais poderia ser dito ou ensinado acerca da vontade de YHWH, ou acerca do que são os mandamentos. A segunda interpretação traz grandes problemas para os seus propositores:
Problema #1 – Cortar Deuteronómio
O primeiro problema que podemos perceber é o de que esse texto é dito em Deuteronómio 4, e nele, a totalidade da Torah não havia sido dada ainda.
Se o texto for entendido como uma forma de sacramentar que, a partir daquele ponto, YHWH não daria mais qualquer ordem a Israel, então a Torah deveria ser encerrada em Deuteronómio 4. Tudo o que está além de Deut. 4 deveria ser ignorado, pois não faz parte da Torah.
Contudo, isso gera um enorme problema:
"E Yeshua respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve ó Israel, YHWH é o teu Deus, YHWH é UM. Amarás, pois, a YHWH teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento." (Marcos 12:29-30)
Ora, tanto Yeshua quanto o próprio Judaísmo normativo concordam que o Shemá é talvez a mandamento mais importante de todas, a partir do qual todo o restante da Torah deriva. Afinal, trata-se da declaração de que Israel tem apenas UM Deus, a quem devemos todo o amor e devoção.
Porém, o Shemá só aparece em Deuteronômio 6 Ou seja, se acharmos que Deuteronómio 4 sacramenta a totalidade das palavras de YHWH, então o mandamento principal fica fora da Torah!
O CERNE DA QUESTÃO
O cerne do problema descrito em Deut. 4 está em:
- Não levar em consideração as palavras de YHWH;
- Fazer acréscimos ao que YHWH diz;
- Remover do que YHWH diz;
Três exemplos de posições históricas podem ser vistas como algo que fere essa recomendação:
- A posição cristã de que a Torah foi abolida desmerece as palavras de YHWH e, portanto, contradiz Deuteronómio 4;
- As leis acerca do Judaísmo normativo, como por exemplo, não comerem carne com leite (Dt. 14:21)
- As excepções do Judaísmo normativo.
Por exemplo, YHWH diz que devemos remover todo o fermento de nossos lares na semana dos asmos (Ex. 12:15), mas o Judaísmo normativo diz que é lícito guardar o fermento em casa, desde que seja trancado num armário, e seja feito um documento a vender o fermento para um estrangeiro durante a semana dos asmos e automaticamente o recomprando após os Asmos. É justamente contra esse tipo de situação que Moisés alerta o povo, quando diz que as palavras de YHWH são inalteráveis. Em momento algum Moisés diz que YHWH não poderia dar novas orientações ao povo.
A Torah dá as cartas
A verdade é que a própria Torah já nos ensina como devemos agir. Primeiramente, a Torah legitima a existência de profetas:
"Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, YHWH, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele." (Núm. 12:6)
Evidentemente que o teste sempre foi a Torah. Mas foi justamente dessa forma que o povo de Israel pôde reconhecer que Escrituras ilustravam a vontade de YHWH.
Paulo diz com clareza:
"Toda a Escritura divinamente inspirada, é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça;" (2Tim. 3:16)
As Escrituras são inspiradas por YHWH, mas também são proveitosas para instruir em justiça. Assim sendo, quando lemos uma Escritura que prescreve um dado comportamento, a nossa posição jamais deve ser a de dizer que “não está na Torah”, afinal a própria Torah alerta que haveria profetas para nos revelarem a vontade de Deus.
SEGUNDA POSIÇÃO EXTREMISTA: TORAH ORAL?
Podemos dizer, então, como dizem os judeus normativos, que existe uma Torah Oral? Certamente que não. O facto é que tudo aquilo que YHWH deu ao povo de Israel foi descrito, segundo o próprio Yeshua, “na Torah e nos profetas”. Como vimos, para verificarmos se algo é verdadeiro, devemos utilizar a Torah como parâmetro. Para considerarmos a hipótese de uma Torah Oral, tal hipótese precisa ser possível mediante a Torah escrita. Vejamos se isso é possível.
O Judaísmo farisaico, que posteriormente se transformou no Judaísmo normativo, alega que juntamente com o texto escrito da Torah, foi entregue uma “Torah Oral” a Moisés. Essa suposta “Torah Oral” teria sido passada de Moisés aos sábios, e preservada de geração em geração. Existem evidências históricas contrárias a isso, como, por exemplo, o próprio testemunho de Flávio Josefo. Contudo, antes de sequer considerarmos tal análise, é preciso verificar se a própria Torah “escrita” dá margem para isso.
A questão é bem simples: Existe algo na Torah escrita que afirme que NÃO há uma Torah Oral? Ou existe algo que afirme que há? Ou, na ausência de um texto claro, há algum indício que possa levar à hipótese de uma Torah oral?
A resposta para a maior parte dessas perguntas é “não.” Contudo, para uma delas, a resposta é “sim”. Vejamos exactamente o que diz a Torah.
A primeira evidência aparece em Êxodo 24:12:
"Então disse YHWH a Moisés: Sobe a mim ao monte, e fica lá; e dar-te-ei as tábuas de pedra e a Torah, e os mandamentos que tenho escrito, para os ensinar."
Aqui vemos que tudo o que YHWH deu a Moisés foi escrito. Mas há mais:
"E Moisés escreveu esta Torah, e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca da aliança de YHWH, e a todos os anciãos de Israel. E ordenou-lhes Moisés, dizendo: Ao fim de cada sete anos, no tempo determinado do ano da remissão, na festa dos tabernáculos, quando todo o Israel vier a comparecer perante YHWH teu Elohim, no lugar que ele escolher, lerás esta Torah diante de todo Israel aos seus ouvidos. Ajunta o povo, os homens e as mulheres, os meninos e os estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam e aprendam e temam a YHWH vosso Deus,, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta Torah; E que seus filhos, que não a souberem, ouçam e aprendam a temer a YHWH vosso Deus,, todos os dias que viverdes sobre a terra a qual ides, passando o Jordão, para a possuir." (Deut. 31:10-13)
Novamente, vemos que aquilo que deveria ser ensinado ao povo era lido da Torah, e não transmitido via tradição oral.
Mas será que há algo na Torah que diga que TUDO o que YHWH disse a Moisés, ele escreveu? A resposta é sim. Repare na instrução que Moisés deixa aos seus sucessores:
"E, havendo-o passado, escreverás nelas todas as palavras desta Torah, para entrares na terra que te der YHWH teu Deus, terra que mana leite e mel, como te falou o YHWH Deus de teus pais." (Deut. 27:3)
Para sacramentar a questão, existe ainda o testemunho de Josué, sucessor de Moisés, que diz com total clareza que tudo o que Moisés deixou foi escrito: "E depois leu em alta voz todas as palavras da Torah, a bênção e a maldição, conforme a tudo o que está escrito no livro da lei. Palavra nenhuma houve, de tudo o que Moisés ordenara, que Josué não lesse perante toda a congregação de Israel, e as mulheres, e os meninos, e os estrangeiros, que andavam no meio deles." Jos. 8:34-35
Portanto, podemos concluir com clareza que a Torah Oral é um acréscimo que não existe à Torah e que viola sim as determinações de Deuteronômio 4.
CONCLUSÃO
Como podemos perceber ambas as posições são equivocadas. YHWH deixou para Israel não somente a Torah, como todo um conjunto de Escrituras, das quais a Torah é a base de tudo. Além disso, podemos ver que Moisés não deixou qualquer conjunto de tradições orais, como complemento da Torah. Assim sendo, a Torah pura de YHWH não está isolada, pois é fundação para toda a Palavra, mas também não precisa de qualquer acréscimo, pois, como diz o salmista:
A Torah de YHWH é perfeita, e refrigera a alma. (Salmos 19:7)
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